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Liderança descentralizada: o que é e como aplicar nas organizações

Athena Bastos

Athena Bastos


Com um cenário empresarial cada vez mais marcado por avanços tecnológicos e foco nas pessoas, a liderança descentralizada deixou de ser somente uma tendência para se tornar uma necessidade estratégica.

Desse modo, o antigo modelo de gestão, com estruturas rígidas, autoridade centralizada e pouca abertura para questionamentos, já não acompanha mais as demandas atuais.

Além disso, o surgimento de empresas mais inovadoras têm favorecido abordagens como o empowerment — gestão que preza pela responsabilidade e poder de decisão das pessoas colaboradoras — e as metodologias ágeis, que aumentam a autonomia das equipes.

Esse movimento se intensifica diante de dados preocupantes sobre o engajamento no trabalho. Segundo a Gallup, em 2024, o percentual global de funcionários(as) engajados(as) caiu de 23% para 21% — queda de dois pontos percentuais, semelhante à registrada durante o ano do lockdown da COVID-19.

Assim, a descentralização não é movida por uma única causa, mas por vários fatores que se somam.

E para entender mais sobre o que é a liderança descentralizada, como ela funciona, seus benefícios e como adaptá-la em sua empresa, basta continuar a leitura deste artigo!

O que é gestão descentralizada?

Na prática, a liderança descentralizada significa tirar o controle das mãos de uma única autoridade e distribuir a tomada de decisões entre diferentes pessoas ou equipes.

No mundo dos negócios, isso quer dizer dar mais autonomia para que as pessoas colaboradoras e os times possam decidir e agir por conta própria, especialmente nos pontos mais próximos do(a) cliente — onde os problemas e oportunidades realmente acontecem.

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É preciso ficar claro que esse modelo vai além da delegação de tarefas. Ele se baseia na abordagem empowerment, ou seja, em dar às pessoas não só responsabilidades, mas também o poder real de decidir e agir, com o objetivo de aumentar o senso de responsabilidade das equipes e o comprometimento com os resultados.

Mas descentralizar a gestão de uma empresa também depende de um elemento chave: confiança. Nenhuma mudança desse tipo funciona sem uma cultura organizacional que apoie a ideia.

Por isso, as pessoas líderes precisam confiar na capacidade de suas equipes, e as pessoas colaboradoras, por sua vez, devem se sentir seguras para tomar decisões, testar soluções e até cometer erros, sem medo de punições.

O papel da pessoa líder: de diretora a facilitadora

Com a descentralização, o papel do(a) líder centralizador(a) também precisa evoluir. Em modelos de liderança centralizada, é comum que as pessoas gestoras sejam vistas como “chefes”, aquelas que dão ordens, controlam tarefas e têm autoridade baseada no cargo que ocupam.

Já em uma gestão descentralizada, esse cargo deve se transformar em uma liderança que inspira, apoia e desenvolve sua equipe. Essa diferença não é somente de nome: ela representa uma mudança na forma como o poder é exercido.

Por exemplo, em vez de controlar cada detalhe ou resolver todos os problemas que aparecem no setor sem consultar ninguém da equipe, a pessoa líder descentralizada deve passar a confiar mais nos membros do seu time e focar mais nos resultados.

Ou seja, uma pessoa que estabelece uma liderança descentralizada deve atuar como facilitadora e mentora das ações do time. Isso significa ajudar a remover barreiras, oferecer suporte técnico e orientar colaboradores e colaboradoras para que todos possam atuar com mais autonomia e segurança.

Com isso, além de manter seu papel fundamental nos times, a liderança acumula menos atividades operacionais em sua rotina, dando espaço para se concentrar em decisões mais estratégicas da empresa. Com isso, ganham as equipes, que se tornam mais engajadas e ágeis, e a gestão, que consegue atuar de maneira mais estratégica e eficaz.

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Mas, afinal, por que descentralizar a liderança de uma empresa?

Adotar um modelo de liderança descentralizada vai além de uma escolha filosófica ou de cultura organizacional. Deve ser uma decisão estratégica com efeitos diretos na competitividade da empresa, no engajamento das equipes e nos resultados financeiros. Entenda melhor a seguir.

1. Agilidade na tomada de decisões

O mundo está cada vez mais acelerado e no mercado de trabalho isso também é uma realidade. Quando estão diante de um problema, as pessoas e as empresas querem uma solução rápida.

Nesse sentido, com a descentralização da liderança, é possível que as decisões sejam tomadas por quem está mais próximo do problema (como equipes de atendimento, operações ou vendas), sem depender de longas cadeias de aprovação e burocracias.

2. Ambiente fértil para inovação

Quando as pessoas colaboradoras se sentem livres para propor ideias e experimentar soluções, a inovação empresarial se dá com mais naturalidade. A adoção da descentralização cria esse ambiente seguro e participativo, no qual todas as pessoas são incentivadas a contribuir, e a criatividade não fica restrita a um único departamento.

Leia também: Como implementar a cultura de colaboração na sua empresa

3. Organizações mais resilientes

Delegar o poder de decisão também fortalece a capacidade da empresa de enfrentar crises e imprevistos. Com o conhecimento e a autonomia distribuídos, a organização não depende de uma única pessoa ou área para continuar funcionando, o que garante mais estabilidade em tempos de incerteza.

Leia também: Como gerenciar e delegar tarefas para as equipes

4. Mais engajamento e senso de propósito

Autonomia gera motivação. Quando as pessoas colaboradoras sentem que suas opiniões são realmente ouvidas e que têm espaço para ajudar nas decisões da empresa, o engajamento cresce.

5. Redução da rotatividade (turnover)

Pessoas engajadas e valorizadas têm mais chances de continuar na empresa. Com isso, a descentralização também ajuda a reduzir a saída de talentos, economizando recursos com novas contratações e treinamentos.

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6. Formação natural de líderes

Dar autonomia também é uma forma de desenvolver novas lideranças na empresa. Isso porque, ao assumir mais responsabilidades no dia a dia, as pessoas colaboradoras passam a exercitar habilidades de gestão, na prática, tornando a organização mais preparada para os desafios futuros.

3. Melhores resultados financeiros

Os benefícios da descentralização se traduzem em números. Empresas que adotam a descentralização e praticam o empowerment registram ganhos reais. A lógica é simples: engajamento gera produtividade organizacional. E produtividade, somada à retenção de talentos, resulta em maior lucratividade.

Como começar a praticar a gestão descentralizada nas empresas?

Adotar a gestão descentralizada é um processo que exige mais do que somente mudar estruturas e organogramas, por envolver cultura, comunicação, capacitação e tecnologia.

Se você está pensando em introduzir esse tipo de liderança na sua empresa, a seguir, confira os principais passos para iniciar essa transição com segurança e eficácia.

1° passo: comece pela cultura

O primeiro e mais importante passo é mudar a cultura da empresa. Em vez de um ambiente controlado que visa a obediência, é preciso construir valores baseados em confiança e responsabilidade compartilhada.

Isso começa com a definição da missão, visão e valores da empresa. Quando todas as pessoas colaboradoras entenderem os objetivos estratégicos do negócio, mesmo com a autonomia, as decisões seguirão a mesma direção.

2°. Crie regras claras e melhore a comunicação

É importante ficar claro que dar autonomia não significa negligenciar os times. Para a descentralização da liderança funcionar, é essencial que todas as pessoas (colaboradoras e gestoras) saibam até onde podem ir.

Por este motivo, defina papéis, responsabilidades e os limites de cada time. Além disso, invista em uma comunicação aberta, escuta ativa e eficiente para evitar retrabalhos, conflitos e distorções de ideias.

3° passo: invista em capacitação e desenvolvimento

Para a descentralização ser bem-sucedida, as pessoas precisam estar preparadas para assumir novos papéis, o que vale tanto para as lideranças quanto para as demais pessoas colaboradoras.

Nesse sentido, é fundamental oferecer treinamentos para o desenvolvimento de competências essenciais, sejam Hard Skills ou Soft Skills — sempre conforme o perfil e a necessidade de cada cargo.

Proporcionar materiais de apoio, formações como MBA in Company, além de palestras e feedbacks 1:1 também ajuda a direcionar as equipes, orientar a gestão e, de forma ampla, gerar mais segurança para todas as pessoas da empresa.

4° passo: antecipe e gerencie os riscos da descentralização

Embora traga muitos benefícios, a descentralização também apresenta desafios que precisam ser bem administrados, conforme abordado a seguir.

  • Risco de desalinhamento: times autônomos podem tomar decisões diferentes do esperado. Para evitar isso, mantenha regras bem definidas e uma cultura compartilhada forte.
  • Perda de controle: sem acompanhamento adequado, pode ser difícil identificar problemas e medir resultados das novas medidas. Para evitar isso, a solução está em definir indicadores de desempenho (KPIs) e utilizar ferramentas de gestão que permitam acompanhar o progresso sem microgerenciar.
  • Segurança da informação: mais autonomia pode significar mais pontos vulneráveis. Por isso, implemente protocolos rigorosos de segurança digital e treine as pessoas colaboradoras em boas práticas de proteção de dados.

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5° passo: use a tecnologia com inteligência

A tecnologia é uma peça-chave na gestão de organizações, uma vez que as soluções digitais ajudam a manter a conexão e o alinhamento entre as equipes. Neste cenário, exemplos de liderança descentralizada, principalmente em modelos de trabalho remoto ou híbrido, proporcionam diferentes recursos que ajudam a impulsionar a produtividade e a autonomia. Conheça algumas opções abaixo.

  • Plataformas de comunicação instantânea: ferramentas como Slack, Microsoft Teams e Google Chat podem centralizar a comunicação, reduzir o excesso de e-mails e permitir a criação de canais por projeto ou departamento.
  • Softwares de gestão de tarefas: Asana, Trello, Jira e Monday.com são opções de programas que oferecem total visibilidade sobre o andamento de atividades.
  • Ferramentas de colaboração em nuvem: suítes como Google Workspace e Microsoft 365 permitem que múltiplas pessoas usuárias editem documentos, planilhas e apresentações simultaneamente. Isso elimina o conflito de versões de arquivos e cria uma “única fonte”, acessível de qualquer lugar.
  • IA como assistente de produtividade: ferramentas de Inteligência Artificial, como a Gemini e o ChatGPT, podem ser usadas para automatizar tarefas repetitivas, gerar rascunhos de textos e e-mails, resumir longos documentos e até analisar dados para diferentes setores.

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Ao considerar todos os pontos que apresentamos, podemos concluir que implantar a gestão descentralizada é um processo que exige compromisso com a cultura, clareza na comunicação, investimento em pessoas e apoio tecnológico.

Apesar dos desafios, os benefícios fazem valer o esforço. Por isso, se você representa uma empresa que está considerando a adoção da liderança descentralizada, comece com pequenos passos, alinhe expectativas, e, principalmente, desenvolva a sua equipe para que, com o tempo, a descentralização se torne parte natural da cultura do seu negócio.

Para este processo, saiba que a Alura + FIAP Para Empresas pode ser uma grande aliada na formação e treinamento especializado das suas equipes e lideranças, seja em Hard ou Soft Skills.

Converse com nosso time de especialistas e saiba mais como podemos ajudar a sua empresa!

Leia também: O que é liderança transformacional e como aplicar na sua empresa?

Athena Bastos
Athena Bastos

Coordenadora de Comunicação da Alura + FIAP Para Empresas. Bacharela e Mestra em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Pós-graduanda em Digital Data Marketing pela FIAP. Escreve para blogs desde 2008 e atua com marketing digital desde 2018.