Como inovar em suas videoaulas com 3 boas práticas de narração inclusiva

Como inovar em suas videoaulas com 3 boas práticas de narração inclusiva
Mariana Cerigatto
Mariana Cerigatto

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Introdução

A videoaula tornou-se um dos objetos de aprendizagem mais importantes da educação online. E você sabia que garantir a acessibilidade digital nos vídeos vai muito além de pensar em legendas?

É preciso pensar em caminhos para a acessibilidade digital em conteúdos audiovisuais, lembrando que nem todas as pessoas têm as mesmas habilidades ou oportunidades iguais de aprendizado.

Um dos primeiros grandes passos é adequar as narrativas nas videoaulas para que sejam mais inclusivas. E é isso que vamos falar neste artigo! Bora?!

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Por que pensar em narrativas mais acessíveis?

A tecnologia nos conecta em tempo real e oferece inúmeras possibilidades de comunicação e compartilhamento de conhecimentos. Porém, não basta transpor a forma de dar aula da sala de aula tradicional para o ambiente virtual.

Aprender novas técnicas de acessibilidade é uma necessidade, visto que a educação a distância se tornou uma tendência que veio para ficar: de acordo com dados do Censo da Educação a Distância, da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), a busca por cursos na modalidade à distância cresceu significamente em todo o país nos últimos anos.

Além de pesquisas que mostram esse “boom” da EaD, existe um movimento mundial por inclusão e acessibilidade, que são temas debatidos por organismos mundiais, como a Unesco.

Acessibilidade e a legislação brasileira

No Brasil temos a Lei nº 10.098 que estabelece as normas gerais e critérios básicos para promover a acessibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Além disso, o Decreto nº 6.949 promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Também é importante mencionar a Lei nº 13.146, que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Acessibilidade digital é para todas as pessoas

Quando falamos de acessibilidade digital, incluímos pessoas com ou sem deficiência. Sim, pois assegurar acessibilidade no mundo online supõe que qualquer pessoa tenha autonomia para não somente acessar o conteúdo, mas também compreender, interagir etc.

Existem vários recursos para a acessibilidade digital, dependendo do contexto e necessidade. O foco desse texto será explorar boas práticas simples de aplicar sobre narração de videoaulas que podem ajudar a superar obstáculos e garantir mais participação na educação online.

Confira no próximo tópico!

3 boas práticas de narração inclusiva

Uma aula com narrativa acessível ajuda a conectar as informações apresentadas de forma mais clara e coerente. Nesta perspectiva, um curso bem elaborado não envolve apenas a questão técnica, também é preciso:

  • descrever as ações na tela;
  • usar uma linguagem simples e clara;
  • encadear ideias de forma coerente; e
  • evitar jargões técnicos.

E, para falar mais sobre isso, eu elenquei 3 principais tópicos:

  1. Ambiente e postura adequados;
  2. Descrição dos elementos e ações;
  3. Linguagem clara e inclusiva.

Essas boas práticas são úteis não somente para quem produz conteúdo educacional, mas para qualquer pessoa criadora de conteúdo!

1) Ambiente e postura adequados

A forma como produzimos e ensinamos conhecimento não depende mais de uma instituição formal de ensino. Hoje podemos ensinar a partir de casa. Mas isso também nos traz responsabilidades a mais.

Meu ambiente é adequado? Estou com um enquadramento legal em vídeo? Roupas, postura, tom de voz…

Dar aula em um ambiente com pouca luz, bagunça, roupa chamativa… logo vai trazer uma distração a mais e desfocar o conteúdo da aula.

Outra coisa: não podemos esquecer que, por mais que tenhamos a sensação de que estamos ministrando uma aula sozinhos(as), existe uma galera nos assistindo. Talvez um dos grandes desafios seja estabelecer diálogo na educação a distância, mas é possível.

Confira as indicações para tornar suas videoaulas com ambiente e postura mais afinados:

  • Falar olhando para a câmera;
  • Fazer perguntas para estabelecer diálogo;
  • Saber usar gestos e expressões faciais;
  • Estar em um ambiente bem iluminado;
  • Descrever o ambiente e fazer a autodescrição;
  • Evitar ambiente que tenha um fundo poluído ou inadequado;
  • Estar bem enquadrado (a) para gravar.

Essas dicas iniciais estabelecem acessibilidade na medida em que se cria um ambiente confortável para o curso, tanto para quem ensina quanto para quem aprende.

Ter momentos de diálogo ao fazer perguntas, saber usar gestos e expressões no momento certo (sem excessos) ajuda na aproximação. Fazer a sua própria descrição em vídeo é uma ótima forma de se aproximar de pessoas cegas e humanizar o conteúdo!

2) Descrição dos elementos e ações

Em uma sala de aula presencial, fica mais fácil mostrar o que estamos fazendo. Mas no ambiente online a distância, tudo que aparece em tela necessita de uma narração, uma descrição.

Descrever os elementos, ações, narrar troca de páginas de um site, informar o que está digitando e onde está digitando, onde está clicando etc, ajuda não somente a termos uma transcrição de curso mais qualificada, que irá beneficiar pessoas com deficiência, mas ajuda também no aprendizado!

Como tornar uma videoaula mais descritiva? Coloque em prática essas indicações:

  • Evitar termos como “esse carinha aqui”, “essa parte aqui”, “clica aqui ou ali”, “aqui nessa parte”, entre outros;
  • Sempre especificar a que está se referindo ou qual trecho na tela;
  • Mencionar quando houver alguma modificação na interface devido a uma interação;
  • Lembrar de sempre mencionar onde ficam localizados os botões na interface;
  • Narrar a ação no momento em que ela está sendo feita na tela;
  • Sempre narrar o que está fazendo, como a troca de telas;
  • Mencionar o caminho para chegar em determinada pasta.

Algo muito comum é esquecermos de especificar algo que estamos nos referindo, e usar o “aqui”. Devemos sempre narrar e detalhar o que está aparecendo em tela, o caminho que estamos fazendo, dando nome às ações e às coisas. Isso ajuda muito no aprendizado!

3) Linguagem clara e inclusiva

A linguagem clara e inclusiva envolve muitas boas práticas. Separei algumas que acho fundamentais:

  • Usar linguagem inclusiva. Por exemplo: ao invés de “programador” usar “pessoa programadora"; ou então, ao invés de “criador de conteúdo”, usar “quem cria conteúdo”. “Boas vindas” no lugar de bem-vindo;
  • Explicar o significado de siglas;
  • Sempre que possível, evite o uso de gerúndio — use verbos de ação. Exemplos: vamos fazer, vamos criar…
  • Evitar sentenças ou falas muito longas;
  • Evitar momentos em silêncio;
  • Explicar termos e palavras muito técnicas;
  • Traduzir palavras estrangeiras.

Lembre-se que, especialmente na educação a distância, recebemos alunos (as) com diferentes perfis, bagagens, necessidades de aprendizagem etc. Se queremos levar conhecimento para mais pessoas, considere o fator de diversidade.

Uma boa prática quanto a isso é não falar somente para um público específico - no caso de certas áreas, como programação, é muito comum nos referirmos ao público masculino e excluir mulheres em nossa fala.

Usar frases simples, em ordem direta, evitar termos muito técnicos, explicar siglas etc. tornam nosso conteúdo muito mais compreensível.

E do ponto de vista do negócio?

Tá, mas agora, papo direto e reto: do ponto de vista do negócio, o que se ganha?

Gif animado com foto de uma menina de traços orientais, de pele clara , cabelos e olhos escuros. Ela segura uma nota de dinheiro um uma das mãos, e na outra faz um gesto com os dedos que se refere à dinheiro.

Se ganha muita coisa! Confira as vantagens nesta lista:

  1. Ampliação do público-alvo: Ao tornar o conteúdo digital mais acessível, sobretudo videoaulas, a empresa pode expandir seu público e ganhar mais visibilidade;
  2. Cumprimento de requisitos legais: ajustar conteúdos de forma que fiquem mais acessíveis, por meio de medidas simples, como tornar as narrações das aulas mais inclusivas, é uma das medidas para atender a esses requisitos;
  3. Melhoria da imagem e da confiança: A acessibilidade digital é um valor que cada vez mais ganha os holofotes quando se trata de cultura digital. Assim, empresas que valorizam essa questão podem melhorar sua imagem e gerar mais confiança;
  4. Melhoria da experiência do usuário(a) com a aprendizagem e compreensão do conteúdo: Videoaulas com narrações mais acessíveis podem gerar transcrições mais completas e melhorar a experiência de aprendizado dos alunos e alunas.

Conclusão

A inclusão e acessibilidade são temas debatidos por organismos mundiais, como a Unesco, que defende uma educação igualitária e inclusiva do ponto de vista social, tecnológico e étnico. Uma educação inclusiva abre oportunidades para que pessoas com diversas necessidades possam aprender.

Portanto, é fundamental que as pessoas criadoras de conteúdo se preocupem com a acessibilidade em suas produções. As videoaulas são um recurso valioso para a educação, e devem ser acessíveis para qualquer pessoa, independentemente de suas habilidades e deficiências.

Acessibilidade é um direito fundamental e devemos trabalhar juntos e juntas para garantir que ela seja aplicada em todas as áreas. Há muito o que fazer, e criar aulas com narrações acessíveis talvez seja um primeiro passo para tornar jornadas de aprendizagem mais significativas e participativas.

Então, bora colocar em prática o conteúdo aprendido?

Mariana Cerigatto
Mariana Cerigatto

Sou formada em Comunicação Social, com mestrado e doutorado na área de Mídias, Educação, Tecnologias e Ciência da Informação pela Unesp. Atuo com metodologias e estratégias ativas de ensino e aprendizagem. Tenho pesquisas relacionadas às teorias educacionais, o aprendizados de novas gerações, a relação entre as linguagens da mídia e Educação.

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