A Alura Para Empresas é a organização que engloba as soluções corporativas da Alura — a maior escola online de tecnologia do Brasil, voltadas a empresas, órgãos governamentais e instituições educacionais.
O débito técnico é o resultado da implementação de soluções rápidas e momentâneas no contexto de desenvolvimento de produtos, sem considerar (ou escolher) a forma mais adequada a longo prazo.
Normalmente, é o que acontece quando lideranças precisam priorizar a velocidade de entrega à perfeição do código. Ou seja, é melhor ser feito e o resultado ser razoável e suficiente, do que não fazer por falta de tempo para chegar à perfeição.
Em geral, a falta de possibilidade de entregar a solução mais adequada possível decorre da escassez de habilidade técnica das equipes, altas taxas de rotatividade, necessidade de entrega rápida e produtividade.
O fato é que, seja para tomar a decisão da melhor estratégia, e optar (ou não!) pelas ações mais rápidas ou para lidar com as consequências, o débito técnico é sempre um desafio para as lideranças. Inclusive, conforme os dados da The Growing Threat of Technical Debt, 69% das lideranças de TI entrevistadas consideram o débito técnico uma ameaça para a inovação.
Pensando nisso, o objetivo deste artigo é fornecer insights sobre o conceito de débito técnico, suas consequências e o impacto na produtividade e qualidade do produto.
E, mais do que isso, a ideia é explorar práticas e estratégias para gerenciar e reduzir o débito técnico, bem como desenvolver habilidades e reter talentos em equipes sujeitas a alta rotatividade.

O que é débito técnico?
O conceito de débito técnico (em inglês, technical debt) se refere ao uso de soluções mais rápidas — e não necessariamente as mais adequadas —, para alcançar objetivos de curto prazo.
Ou seja, é o resultado de priorizar a entrega rápida de uma feature ou de um projeto em detrimento de um código perfeito. Portanto, um trade-off entre o curto e o longo prazo.
Como surgiu o conceito débito técnico?
O termo “débito técnico” surgiu em 1992, na conferência OOPSLA’92, sobre engenharia de software, em uma analogia de Ward Cunningham ao débito financeiro, que se não for pago, acumula juros. Seu conceito compreende a tomada de decisões que priorizam a velocidade da implementação, ao invés de escolhas que resolvam o problema por completo.
Dessa forma, ele traz consigo a ideia de que existem melhores maneiras de resolver o problema. Por conta disso, o débito técnico pode criar dificuldade na manutenção de códigos, gerar custos adicionais, retrabalhos e engessamento de projetos.
Na prática, já existem ferramentas técnicas que ajudam a identificar a existência de débitos técnicos nos códigos. No entanto, é bastante incomum que existam produtos de software que tenham esse conceito. Afinal de contas, ele é, muitas vezes, uma decisão estratégica ou, até mesmo, a única saída possível diante do contexto.
VEJA TAMBÉM:
O que é e quais as vantagens do cloud computing (computação em nuvem)?
5 características de uma boa liderança e como alcançá-las
Dicas estratégicas para ter equipes de TI de sucesso
Quais as razões de existirem débitos técnicos?
Entre as causas para o aumento de débito técnico nos códigos, os 5 motivos principais são:
- 1. Fatores externos: como pressão de clientes, prazos e dependência de serviços de terceirizadas;
- 2. Infraestrutura: escolha de tecnologias, ferramentas e plataformas inadequadas.
- 3. Falta de metodologia: ausência de processos bem definidos, documentações incompletas, falta de refatoração, problemas com etapas de testes, de validação, entre outras questões.
- 4. Organizacional: ausência de pessoas qualificadas, falta de treinamento, altas taxas de turnover e sobrecarga das pessoas colaboradoras.
- 5. Planejamento e gestão: falhas no gerenciamento do projeto e na estimativa do tempo de entrega e foco na produção (e não na qualidade).
Leia também: Testes de software e documentação: pilares para garantir qualidade e eficiência no desenvolvimento de software.
Quais são os tipos de débitos técnicos?
Agora que você já sabe o que é um débito técnico, está na hora de conhecer seus variados tipos. Eles se diferenciam em relação ao controle que a empresa tem sobre cada um, e se ele aconteceu, ou não, em razão da falta de conhecimento do time.
Os 4 tipos de débito técnico são:
Imprudente intencional
Neste caso, as pessoas colaboradoras sabem da existência de erros no código, mas lançam o produto sem resolvê-los por conta de fatores, por exemplo, o tempo.
Imprudente não intencional
Os erros acontecem por falta de conhecimento técnico das pessoas colaboradoras, ou seja, não é algo que a equipe não quis, ou não pôde, resolver.
Consciente intencional
O débito técnico é uma escolha consciente para entregar o produto dentro do prazo e as pessoas colaboradoras se comprometem a corrigir os erros futuramente.
Consciente não intencional
O time de produto concluiu o projeto e, só depois do lançamento, percebe as falhas no código.
Leia também: Dicas práticas de como acelerar o aprendizado das pessoas colaboradoras com eficiência
Qual é o impacto do débito técnico nas empresas?
Em 2003, um pouco mais de uma década após o surgimento do termo, Martin Fowler — referência na área de engenharia de software — descreveu o contexto do débito técnico da seguinte forma:
De todo modo, o débito técnico impacta diretamente em dois fatores da estratégia de negócio: custo e risco. Nessa perspectiva, qual é o custo para a empresa manter o débito técnico? E qual é o risco desse débito técnico se transformar em um problema maior no futuro?
Em uma pesquisa com 120 pessoas nas funções de desenvolvedoras e tech lead, a Zup — stack brasileira de tecnologia voltada à developer experience — perguntou quais eram os maiores impactos relacionados ao débito técnico. Os cinco desafios mais citados foram:
- Questões referentes à baixa qualidade interna: 91 votos;
- Códigos mal escritos: 80 votos;
- Problemas arquiteturais: 76 votos;
- Defeitos conhecidos e não corrigidos: 72 votos;
- Atalhos, em relação ao design de produtos: 67 votos.
Vale mencionar que a pesquisa permitia que as pessoas escolhessem mais de uma resposta. Para conferir o estudo completo, acesse o artigo: Qual o impacto do débito técnico no código?.
Como lidar com o débito técnico: estratégias eficazes
Para começar, é importante ter em mente que não existe uma forma de eliminar 100% o débito técnico. Afinal de contas, é normal que a solução mais rápida seja a única escolha possível, já que uma opção mais completa poderia comprometer o tempo de entrega do produto.
Por isso, é normal que as pessoas desenvolvedoras aceitem que ele existe, desde que seja controlado. Uma forma de fazer isso é, por exemplo, lançar o produto dentro do prazo hábil, mas lançar pequenos updates para consertar eventuais bugs, algo muito visto em lançamentos de jogos digitais.
Sem dúvidas, ao longo do processo de desenvolvimento de um software, a primeira medida para lidar com débito técnico é saber da sua existência e mensurar o seu risco. Para isso, é fundamental considerar os seguintes aspectos:
- tamanho de métodos;
- linhas de código (LoC) e comentários na aplicação;
- cobertura e coesão de código;
- complexidade ciclomática;
- duplicação de código;
- fragilidade de builds e testes automatizados.
Além disso, é possível usar uma técnica de identificação de itens de backlog para dimensionar o débito. Isso é feito por meio de marcações do que precisa ser corrigido no futuro. Essa marcação faz com que seja mais fácil pesquisar os itens que precisam de otimização.
No entanto, você deve pensar que as dívidas técnicas funcionam como débitos financeiros. Ou seja, uma hora você terá que pagá-las, e é melhor não deixar acumular.
Depois, é hora de analisar cada aspecto do débito técnico: ‘o que deve ser priorizado no desenvolvimento deste produto?’ Também é possível contar com a ajuda de softwares que verificam a qualidade dos códigos, para apontar dados duplicados, comentários, vulnerabilidades e erros. Além disso, eles também podem sugerir opções de melhorias.
Para se aprofundar sobre o tema débito técnico e conhecer métodos de como lidar com ele, ouça agora mesmo o podcast Hipsters On The Road #27 sobre Débito Técnico, na Quero Educação.rros. Além disso, eles também podem sugerir opções melhores.
Como lidar com a alta rotatividade dos times tech?
A redução da taxa de rotatividade de pessoas na empresa é possível. Entretanto, assim como todas as estratégias do negócio, não existe uma fórmula mágica ou receita de bolo para resolvê-la de maneira simples e rápida.
A melhor forma sempre é olhar para dentro da organização e comparar o que ela faz com o que está sendo feito em outras empresas. Ou, até mesmo, observar o que a cultura da organização promete, e o que ela realmente faz. Esses podem ser dois bons primeiros passos para o início.
Tente responder às seguintes perguntas:
1 - Como está a comunicação interna da empresa?
2 - As pessoas colaboradoras estão contentes com os salários e benefícios que recebem?
3 - A infraestrutura e o ambiente de trabalho permitem o exercício da função com alto desempenho?
4 - Há oportunidades de crescimento profissional?
Além disso, considere as seguintes estratégias de retenção de talentos:
- Promova um ambiente de trabalho produtivo, não pela pressão pela alta produtividade, mas pela oferta de ferramentas necessárias ao desenvolvimento das funções.
- Incentive o aprendizado colaborativo dentro do seu time e comunidades de aprendizado.
- Impulsione uma cultura de feedbacks, (oferecendo e coletando feedbacks regulares).
- Invista em programas de treinamento e desenvolvimento das pessoas colaboradoras em tecnologia.
Dúvidas frequentes sobre débito técnico
Ficou com alguma dúvida sobre o conceito de débito técnico? Para te ajudar, respondemos algumas perguntas frequentes sobre o tema. Confira:
Quais são os sinais de que o débito técnico está se tornando um problema em sua empresa?
Alguns sinais de alerta de que o débito técnico está saindo do controle incluem: atrasos constantes, bugs frequentes, dificuldade de adicionar novas funcionalidades, reclamações das pessoas usuárias e frustração da equipe.
Qual é a diferença entre débito técnico e bugs?
Embora ambos possam causar problemas no software, débito técnico e bugs são conceitos diferentes:
- Débito técnico: é uma decisão consciente de implementar uma solução rápida e fácil, sabendo que ela não é a melhor opção a longo prazo. É como uma dívida que você acumula e que precisa ser paga no futuro.
- Bugs: são erros no código que fazem com que o software se comporte de forma inesperada ou incorreta. Eles são, geralmente, não intencionais e precisam ser corrigidos o mais rápido possível, por poderem causar problemas nas ações dentro do programa.
O débito técnico é sempre algo ruim?
Nem sempre. Em alguns casos, ele pode ser uma escolha estratégica para acelerar o desenvolvimento ou atender a um prazo importante. No entanto, é fundamental ter um plano para lidar com o débito técnico acumulado posteriormente, para evitar que ele se torne um problema incontrolável.
Como o débito técnico pode afetar a segurança de um sistema?
O débito técnico pode comprometer significativamente a cibersegurança de um projeto. Isso porque códigos mal estruturados, soluções apressadas e a ausência de testes rigorosos abrem portas para vulnerabilidades, que podem ser exploradas por agentes maliciosos. Por esta razão, mesmo ao usar a solução, é preciso ter cuidado para não colocar os projetos e dados da empresa em risco.
Se você tem interesse por mais informações sobre segurança digital na atualidade, assista a nossa Masterclass Tech Para Empresas sobre cibersegurança na era da IA:
https://www.youtube.com/watch?v=XCDKRD1Ar2I
Desenvolvimento de pessoas em tecnologia: uma solução para o débito técnico
Por fim, o aprendizado contínuo é uma ótima estratégia tanto para retenção de talentos, quanto para diminuir os índices de débito técnico.
Afinal, de um lado, uma cultura de aprendizagem contribui para gerar um clima mais positivo e maior satisfação entre as pessoas colaboradoras. Por outro lado, traz benefícios à rotina e à estratégia da empresa, enquanto promove mais agilidade, produtividade e inovação.
Ainda que os treinamentos corporativos sejam pontuais, para superar alguma dificuldade técnica ou desenvolver alguma Soft Skill, por exemplo, a equipe de TI deve refletir sobre como expandir e manter a aprendizagem como parte de sua cultura.
Ou seja, para alcançar as métricas e os objetivos necessários, é fundamental manter os times atualizados e capacitá-los para os desafios do negócio. Só assim, a estrutura da equipe de TI poderá alcançar seu máximo potencial.
Quais habilidades e conhecimentos a sua equipe de TI precisa desenvolver para alcançar a excelência?
A Alura Para Empresas pode fazer parte da sua estratégia de treinamento e desenvolvimento. Conheça nossos cursos e planos disponíveis!