Facilitação em metodologias ativas: o que é, qual a sua importância e como fazer?

Facilitação em metodologias ativas: o que é, qual a sua importância e como fazer?
Priscila Stuani
Priscila Stuani

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Uma das frases mais marcantes que me lembro de ouvir de uma professora muito querida foi “Aprendemos aquilo que faz sentido para nós”. O que faz refletir sobre o nosso modelo de ensino e aprendizagem.

Em algum momento você pensou que a forma com que as instituições de ensino atuam não está acompanhando o ritmo das transformações da era pós-digital? Por mais que algumas iniciativas surjam, a sensação de que paramos no tempo permanece.

Afinal de contas, estamos falando sobre um modelo de aprendizagem que não estimula a autonomia entre as partes envolvidas no processo. Da perspectiva dos estudantes, essa rotina é marcada pela preocupação de centralizar o aprendizado nas disciplinas, mas que desconsidera o ensino de competências que são exigidas, principalmente na fase adulta, como por exemplo ter uma boa gestão de tempo, organização e tomada de decisão.

Isso pode ter relação com o fato de que o modelo educacional que conhecemos ainda segue princípios e valores cunhados no século 18. Sua prática se dá através do modelo pautado na obediência a instruções, na ênfase em determinadas disciplinas, forte hierarquia e um progresso mecânico e padronizado, onde a pessoa que atua como docente desempenha uma figura de autoridade e estudantes, por sua vez, se mantém numa perspectiva de passividade.

Diante desse contexto, as Metodologias Ativas têm assumido um papel de protagonismo no que diz respeito à uma forma diferente de aprender e ensinar.

Características das Metodologias Ativas

As Metodologias Ativas devem ser compreendidas como um quadro estratégico de ensino que orienta a aprendizagem com características bem definidas e em que se enquadram várias ferramentas e procedimentos emergentes, tais como:

  • O contexto que se desenha para a aprendizagem é entendido como uma continuidade entre as diferentes áreas curriculares e procura quebrar as barreiras dos espaços formais e não formais. Em sua abordagem mais ambiciosa, as propostas didáticas convidam ao trabalho conjunto entre diferentes educadores e contemplam as possibilidades oferecidas pelos tempos e espaços extraescolares. Da mesma forma, o território da virtualidade é incorporado como espaço de aprendizagem, integrando a rede e as ferramentas de comunicação que a facilitam.

  • Quem aprende é protagonista. Embora essa ideia já estivesse presente nas metodologias que partem da Escola Nova - um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX - a novidade é que os cenários de aprendizagem não são totalmente controláveis por educadores, é necessário aprender a desempenhar um papel diferente no processo.

  • Busca um conhecimento profundo do conteúdo abordado em suas propostas. O quadro que engloba as metodologias ativas coloca em primeiro plano a aquisição de competências que poderíamos abarcar no “aprender a aprender”. Isso tem consequências diretas na busca de soluções estratégicas que facilitem a aprendizagem - e mensurem as conquistas alcançadas por estudantes - em relação à capacidade de trabalho colaborativo, criatividade, pensamento crítico e executivo, inteligência emocional e aprendizagem baseada em processos.

  • A colaboração é o referencial da estratégia baseada em metodologias ativas. A discussão e busca de recursos que focalizem a atenção de professores, é baseada no princípio da aprendizagem cooperativa. Há um grande movimento de troca de ensino em torno de ferramentas e experiências girando em torno desse princípio que se descobre como um grande eixo dessas metodologias.

  • Trabalhe com a realidade. Há um esforço importante para que a abordagem didática se conecte diretamente com a experiência diária de quem aprende. A realidade em que habitam é o cenário privilegiado para situações de aprendizagem em todas as estratégias ativas desde a colocação de problemas do quotidiano, o trabalho com as suas redes sociais ou a utilização de aplicações e dispositivos móveis junto de estudantes.

  • É orientado para a ação. Uma referência desejável na aprendizagem ativa é sua utilidade na vida concreta. Orientar o processo em torno da realização de um produto final convida a adquirir uma lógica narrativa diferentes de outras abordagens de ensino.

Banner promocional da Alura, com um design futurista em tons de azul, apresentando dois blocos de texto, no qual o bloco esquerdo tem os dizeres:

O ensino baseado em metodologias ativas é centrado na pessoa que aprende

Imagem - Mulher segurando caderno e lápis com olhar de quem teve uma ideia.

“Por aprendizagem significativa, entendo, aquilo que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua existência.” Carl Rogers

Note que a aprendizagem é concebida como um processo construtivo e cada estudante atua como um agente ativo dele.

A aprendizagem não é considerada uma recepção e acúmulo de informações como em outras metodologias. Estudantes devem participar ativamente do processo e pensar sobre o que estão fazendo. Este é talvez o principal objetivo imediato das metodologias ativas: fazer quem estuda pensar.

Um elemento chave neste tipo de metodologias é que elas promovem o desenvolvimento de competências metacognitivas, que permitem ao aluno julgar a dificuldade dos problemas; identificar se entendeu um texto; usar diferentes estratégias para compreendê-lo e avaliar seu progresso na aquisição de conhecimento. Esse tipo de aprendizagem é conhecido como autodirigida.

Além das habilidades metacognitivas, que se refere a um controle maior sobre aquilo que aprendemos cognitivamente, ou seja, a metacognição também passa por um processo de aprendizagem, em que estudantes melhoram sua autoconfiança, autodisciplina e autocontrole; eles se tornam mais autônomos.

Este tipo de aprendizagem também envolve o trabalho em equipe, as pessoas envolvidas discutem e avaliam com frequência o que aprendem. Ao mesmo tempo, desenvolvem uma variedade de habilidades sociais.

Essas metodologias destacam a necessidade do ensino ocorrer no contexto de problemas do mundo real; situações o mais próximas possível do contexto em que o aluno se desenvolverá no futuro.

Contextualizar o ensino geralmente motiva estudantes e faz com que tenham uma atitude positiva em relação à aprendizagem que também se torna mais significativa e memorável. Esses princípios dão origem aos componentes que toda metodologia de aprendizagem ativa possui e que foram descritos por três pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos: David Johnson, Roger Johnson e Karl Smith em 2000. São eles:

  • O cenário: Forneça o contexto do problema, projeto ou caso. Isso inclui o estabelecimento de funções para estudantes.

  • Trabalho em grupo: Estudantes trabalham em grupos pequenos ou grandes nos quais devem dividir as tarefas e funções para concluir a tarefa.

  • Solução de problemas: Esses problemas costumam ser complexos e exigem que estudantes investiguem e realizem processos de pensamento complexos.

  • Descoberta de novos conhecimentos: Estudantes devem refletir sobre o que sabem e o que precisam saber para resolver o problema. Dessa forma, eles buscarão novos conhecimentos para finalizar a tarefa.

  • Problemas baseados no mundo real: Isso tornará o aprendizado mais significativo para estudantes demonstrando que existem vários caminhos que podem levar à resolução de um problema.

A aprendizagem ativa é eficaz porque envolve os estudantes em seu processo de aprendizagem; dá ao professor a oportunidade de “personalizar” a aprendizagem e a torna inclusiva.

Note que essas técnicas de facilitação tiram estudantes do papel de mero espectador e colocam no centro do seu processo de aprendizado, o que contribui para a máxima que compartilhei no começo deste artigo: “Só aprendemos aquilo que faz sentido.”

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Priscila Stuani
Priscila Stuani

Priscila é Psicóloga (CRP: 06/193357) e neuroeducadora. Já criou mais de 60 cursos na Alura, além de palestrar sobre desenvolvimento de habilidades pessoais. Nas horas vagas, dedica-se à prática do yoga, corrida e musculação.

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