Artigo

Teoria U: como aplicar essa metodologia inovadora em sua empresa?

Athena Bastos

Athena Bastos


Não há dúvidas: vivemos um cenário de mercado complexo. No contexto atual, as lideranças precisam buscar por eficiência operacional, mas, ao mesmo tempo, também precisam estimular a inovação dentro da empresa.

Por um lado, o mercado está cada vez mais competitivo e o público cada vez mais exigente. Por outro, as estratégias demandam maior assertividade e mais cautela. E com um detalhe: já não existe tanto espaço para investimentos sem expectativa de retorno como um dia existiu.

Enquanto esses desafios se impõem, também surgem soluções, inclusive por um olhar para a tecnologia, tanto para repensar seus produtos quanto para reformular seus processos — tudo em busca de soluções inovadoras.

É neste cenário que entra a Teoria U — descrita no livro “O essencial da Teoria U: princípios e aplicações fundamentais”, como uma forma de melhorar a visão de negócios e implementar uma gestão de inovação.

O objetivo deste artigo é, portanto, apresentar a Teoria U e sua aplicação pelas lideranças, com foco em refletir sobre como essa abordagem pode ser utilizada para fomentar inovação, solucionar problemas e promover aprendizado.

Continue lendo este artigo para saber mais!

Mulher asiática trabalhando em escritório utilizando computador em mesa corporativa repleta de papéis.

O que é a Teoria U?

A Teoria U é uma metodologia de aprendizagem, cujo foco é apoiar o processo estratégico e desenvolver habilidades de liderança que promovam impacto positivo e decisões conscientes.

Na visão de Giulina Preziosi, sócia da Conexão-Trabalho — consultoria em metodologias de inovação —, a Teoria U é “uma tecnologia social ou metodologia de inovação que propõe uma jornada de percepção do todo”.

Dessa forma, a ideia da Teoria U é que a organização “possa se livrar do que não é essencial, refletindo sobre soluções e gerenciando conflitos internos e externos para alcançar um resultado.”

VEJA TAMBÉM:

Estratégias para montar uma cultura de aprendizado na sua empresa

Disrupção x inovação: como construir uma empresa disruptiva

Transformação digital: tendência ou sobrevivência para as empresas

Quais os princípios da Teoria U?

De forma geral, o princípio básico da Teoria em U estabelece que a qualidade da mudança que uma ação pode gerar é uma consequência do nível de atenção e da consciência das pessoas envolvidas.

Nesse caso, os termos “atenção” e “consciência” remetem ao “lugar interior” (inner place) ou à “fonte”, a partir dos quaisl todas as ações tomam forma.

Descubra como o mercado alcança eficiência operacional por meio da educação em tecnologia - acesse a pesquisa inédita

Ou seja, segundo a Teoria U, quanto mais as pessoas estiverem, de fato, conectadas com o “lugar interior” e com as experiências do presente, maior será a qualidade das ações.

Além disso, a teoria demonstra que os sistemas atuais (saúde, economia, educação e assim por diante) estão se encontrando em um ponto comum: todos estão, coletivamente, produzindo resultados indesejados.

E a razão para isso é que todos os comportamentos e as ações das pessoas se baseiam em pressupostos ultrapassados. Como resultado, os sistemas produzem realidades diferentes daquelas que se imaginavam para o futuro.

Sendo assim, “operar a partir do passado” é, portanto, o “vício” que a Teoria U se propõe a superar. Para isso, propõe que as pessoas precisam se conectar com o momento presente para aprender a pensar de forma condizente com o futuro.

Leia também: Estratégias para montar uma cultura de aprendizado na sua empresa

Quem criou a Teoria U?

Agora que você já sabe o que é a Teoria U, é importante saber também que o termo foi usado pela primeira vez no final dos anos 60, na Holanda, em um cenário de pesquisas sobre inovação em metodologias pedagógicas.

No entanto, a consolidação e sistematização do conceito aconteceu somente em 1996, através dos estudos de Otto Scharmer, economista e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Na época, com seus colegas Peter Senge e Joseph Jaworski, Otto Scharmer desenvolvia pesquisas e experimentos sobre mudanças comportamentais e organizacionais, a partir de um olhar analítico e crítico para o papel das lideranças globais.

Somente 13 anos depois, em 2009, Otto publicou o livro “Theory U”, na ideia de apresentar a metodologia e propor um pensamento sistêmico para diversos tipos de organizações.

Leia também: 5 características de uma boa liderança e como alcançá-las

Maior escola de tecnologia do país - saiba mais

Quais os 7 passos da Teoria U

Para entender melhor como funciona a Teoria U — especialmente, como ela pode auxiliar a promover inovação nas organizações, é fundamental conhecer cada uma de suas etapas.

Nesse contexto, as etapas da Teoria U são:

Suspender

Talvez alguém da sua família já tenha falado sobre a sabedoria de pensar antes de fazer — e a primeira etapa da Teoria U traz justamente essa ideia.

A etapa de “suspender” compreende o conceito de refletir sobre as possíveis consequências antes de executar alguma ação ou estratégia. Isso faz com que seja possível evitar efeitos não tão positivos para os negócios.

Alinhado a essa reflexão, a empresa passa a identificar alguns padrões de repetição. A partir disso, é mais fácil tomar decisões assertivas e fazer os ajustes necessários.

Redirecionar

Os períodos de reflexão devem se relacionar muito com a segunda etapa: redirecionar. Afinal de contas, para executar planos inovadores, é fundamental mudar a direção do olhar da empresa.

Esse deve ser um processo profundo, que inclui redesenhar a perspectiva da empresa em relação a diversos fenômenos internos e externos.

Sentir

A terceira etapa da Teoria U consiste em entender sobre quais ambientes a empresa faz parte e qual é o seu posicionamento diante do mundo. Por isso a denominação é sentir: qual é o nicho de atuação da empresa? Como é o clima organizacional? Como a empresa interage com o mercado, o meio ambiente e com seus próprios colaboradores e colaboradoras?

Então, por exemplo, deve-se perguntar: como a empresa se posiciona diante das questões de sustentabilidade?

Essas questões vão auxiliar a identificar pontos fortes e fracos, gerar ideias para novos projetos e, quem sabe, traçar limites novos em direção aos valores e a missão da organização.

Presenciar

Em inglês, essa etapa se chama “presencing”, em uma junção das palavras “presenciar” e “sentir”.

É, portanto, uma continuidade da etapa anterior. Só que aplicando a uma realidade mais prática. Assim, a ideia é vivenciar os impactos (positivos e negativos) que as ações do negócio causam — para, a partir de então, verificar se combinam ou não com a proposta de valor da empresa.

Cristalizar

A quinta etapa da Teoria U inaugura uma nova fase da empresa. É o momento em que se deixa as ideias ultrapassadas para trás para colocar em ação as novas.

Então, nesse ponto, é importante identificar quais mudanças práticas devem ser feitas para alinhar o negócio com seus valores e, ao mesmo tempo, com os movimentos do mercado.

Na prática, a cristalização das ideias consiste em elaborar um planejamento estratégico, para traçar um plano do caminho que se deve seguir para atingir os objetivos da empresa.

Prototipar

Depois de traçar um planejamento estratégico, é hora de colocar em prática a Teoria em U. Mesmo que, na realidade, essa etapa aconteça aos poucos.

Independentemente de qual for a proposta de inovação da empresa, a fase de prototipação é para experimentar as ideias e colocá-las em ação.

Performar

Por fim, é o momento de materializar a performance das iniciativas. Depois de testá-las na fase de prototipação, agora é o momento de colocar em prática as ações que deram certo e que aplicam as ideias inovadoras descobertas nesse processo.

Como aplicar a Teoria U

Nada melhor que um exemplo real para explicar como a Teoria U pode ser aplicada na prática das organizações do que o caso da Nike — marca extremamente conhecida pelo mundo inteiro no ramo do vestuário.

Na década de 90, Darcy Winslow foi a principal responsável por desenvolver estratégias sustentáveis na cultura organizacional da empresa. Para isso, ela seguiu as sete etapas da Teoria U:

Criou uma equipe focada nas estratégias empresariais sustentáveis para implementar essas ideias;

Analisou, em conjunto, todo contexto da empresa — colocando em prática tanto o “sentir” quanto o “presenciar”;

A partir dessa análise, gerou engajamento das equipes com as causas de sustentabilidade como uma forma de cristalizar essas ideias na cultura da empresa;

Testou todas as ideias na fase de prototipação;

Em seguida, gerou um plano de ação realista que englobasse todas as questões relevantes para se tornar uma empresa realmente sustentável.

Como resultado disso, a Nike passou a investir em uma produção mais sustentável — como, por exemplo, o uso de algodão orgânico, exclusão de aditivos e redução de substâncias químicas nos produtos.

Assim, a teoria consciente atingiu sua cultura organizacional e sua realidade na prática.

Qual a sua importância para a liderança e inovação nas empresas?

Em primeiro lugar, a Teoria U é importante para as lideranças, porque sistematiza uma metodologia para gerar mais inovação. Afinal, a partir do seu processo, a teoria propõe que as pessoas compreendam e questionem o funcionamento de uma organização. Assim, é possível distinguir o que é realmente relevante do que não é necessário para o crescimento do negócio.

No final das contas, a organização pode reconstruir seus valores e suas propostas diante do mercado, a partir de ideias inovadoras, que dão conta de gerar os resultados esperados. Ou seja, a mudança não é apenas pontual, mas em toda a estrutura da empresa. Inclusive, construindo um panorama novo da cultura organizacional.

Na prática, a Teoria U melhora a capacidade de comunicação das pessoas da organização: tanto em relação à capacidade de ouvir quanto de falar sob sua perspectiva. Como consequência, também aumenta o engajamento e a motivação das pessoas colaboradoras em relação às atividades de suas funções.

Se a sua empresa busca oferecer novas capacitações em liderança, RH tech ou outros conceitos importantes para as áreas de Recursos Humanos e Tecnologia, confira todas as formações que a Alura para Empresas pode oferecer!

Tire suas dúvidas sobre a Teoria U

Quer saber mais sobre a Teoria U? Então confira a seguir as respostas para algumas das principais perguntas sobre o tema:

A Teoria U é aplicável a qualquer tipo de organização?

Sim, a Teoria U pode ser adaptada a diferentes contextos e tipos de organizações, desde pequenas empresas até grandes corporações, ONGs e instituições governamentais.

Qual a relação da Teoria U com a inteligência coletiva?

A Teoria U valoriza a inteligência coletiva, por acreditar que as melhores soluções emergem da colaboração e da diversidade de perspectivas. A Teoria em U promove a escuta profunda, o diálogo aberto e a cocriação, permitindo que a sabedoria do grupo se manifeste.

Como a Teoria U se diferencia de outras metodologias de mudança?

A Teoria U se destaca por sua ênfase na transformação da consciência individual e coletiva. Enquanto outras metodologias focam em ferramentas e técnicas, a Teoria U visa acessar níveis mais profundos de conhecimento e intuição para gerar soluções inovadoras e sustentáveis.

O que são os 4 níveis de escuta da Teoria U?

A Teoria U define quatro níveis de escuta, cada um representando um grau diferente de abertura e receptividade a outra pessoa e à situação:

  • Downloading: é o nível mais superficial, onde ouvimos apenas para confirmar nossas próprias opiniões e crenças. A mente está fechada para novas informações, e a atenção está voltada para o que já sabemos. É como se estivéssemos baixando (downloading) informações que já possuímos.
  • Escuta factual: nesse nível, estamos abertos a ouvir informações e fatos novos, mas ainda estamos presos a nossos próprios julgamentos e interpretações. A mente está aberta para receber novas informações, mas ainda filtradas por nossas próprias perspectivas.
  • Escuta empática: aqui, nos conectamos com o outro em um nível emocional, buscando entender seus sentimentos e perspectivas. A mente e o coração estão abertos para compreender a experiência do outro, sem julgamentos. É uma escuta que busca a compaixão e a conexão humana.
  • Escuta generativa: é o nível mais profundo de escuta, onde nos abrimos para o que está emergindo no momento presente. A mente está aberta para novas possibilidades, e a atenção está voltada para o futuro que queremos criar. É uma escuta que se conecta com a intuição e a inteligência coletiva, permitindo que novas ideias e soluções surjam.

Por fim, a Teoria U propõe que, ao nos movermos para níveis mais profundos de escuta, somos capazes de acessar um campo de inteligência coletiva e gerar soluções mais criativas e inovadoras.

Como tornar sua empresa mais disruptiva

Agora que você já sabe como promover a inovação dentro da sua empresa, não há nada melhor do que o alinhamento entre a cultura e o propósito da organização para cuidar do clima organizacional e melhorar o engajamento das pessoas colaboradoras.

Afinal de contas, esse processo pode fornecer o mapa para guiar as equipes em direção ao sucesso (especialmente, à perspectiva de sucesso que realmente almejam). Por isso, vale investir tempo e recursos em formações especializadas para os times, que você encontra aqui na Alura para Empresas.

Quer saber mais sobre inovação, liderança e desenvolvimento em tecnologia? Receba a newsletter da Alura Para Empresas com insights mensais, direto na sua caixa de entrada para ficar por dentro do mundo dos negócios!

Athena Bastos
Athena Bastos

Coordenadora de Comunicação da Alura + FIAP Para Empresas. Bacharela e Mestra em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Pós-graduanda em Digital Data Marketing pela FIAP. Escreve para blogs desde 2008 e atua com marketing digital desde 2018.