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Por que o profissional T-Shaped é o futuro da sua organização

Athena Bastos

Athena Bastos


Há alguns anos, interessar-se por assuntos diversos era um sinal de falta de foco. Era como se o tempo despendido com esses assuntos fosse roubar o tempo disponível para se especializar ainda mais em outro conteúdo.

Mas e se esse tempo não for roubado? E se de alguma forma ele reverter em novas potencialidades?

Neste cenário, profissionais T-Shaped se destacam em um movimento de compreensão de que já não basta permanecer no mesmo lugar. É preciso ampliar a bagagem e conhecer além para resolver problemas complexos.

E por que as empresas deveriam prestar mais atenção nesses(as) profissionais?

Porque possuem metas desafiadoras. Porque buscam crescimento. Porque precisam inovar para vencer os obstáculos do mercado.

Para Bill Gates, por exemplo, uma das principais razões para o sucesso da Microsoft se deve não somente à contratação de profissionais brilhantes. Deve-se também à contratação de pessoas com profundidade em seu campo de trabalho e em diferentes competências.

Mas não precisamos falar apenas da Microsoft para enxergar as razões para focar em profissionais em T. Podemos falar da forte cultura de dados nas empresas.

Mesmo pessoas que atuam em setores que tradicionalmente não são tão digitais, precisam, hoje, ter esse conhecimento para trabalhar com assertividade.

Por isso, neste artigo, exploramos o perfil do(a) profissional T-Shaped: o que é, suas particularidades em relação aos perfis em I e em X, como atrelar planos de carreira a desenvolvimentos multidisciplinares, profissionais em T na área de tecnologia e as vantagens desse perfil para as empresas.

profissional T-Shaped

O que é um profissional T-Shaped?

O profissional T-Shaped é um profissional especialista, com profundo conhecimento em uma área, mas também com conhecimento em outras áreas, próximo ao perfil de um generalista. É um profissional multidisciplinar que possui um repertório de conhecimento em diferentes campos. É um perfil inovador, que difere da visão tradicional de que devemos somente nos dedicar a um tipo de saber. Sim, a profundidade ainda é necessária! Afinal, viemos de um sistema de pessoas generalistas, para pessoas com especialidades, porque o avanço também dependia desse nível de profundidade. VEJA TAMBÉM: Contudo, ser especialista não é mais suficiente em um mundo de problemas complexos. E David Epstein traz bem isso em seu livro “Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas”. Segundo ele, nossa visão tende naturalmente a olhar para aquilo que conhecemos e no que estamos inseridos. Porém, alguns problemas exigem uma visão de fora, de analogias que ofereçam novas soluções. Ele escreve:
“Nossa inclinação natural em seguir a visão interna pode ser vencida recorrendo-se a analogias vindas da ‘visão externa’. Esta busca similaridades estruturais profundas com o problema em questão em problemas diferentes. A visão externa é profundamente contraintuitiva, pois exige que o responsável pela tomada de decisões ignore as características superficiais únicas do projeto em questão, nas quais ele é especialista, e procure analogias estruturalmente similares em outros lugares. Ela requer que a atitude mental passe de estreita para larga.”
Uma formação em T desperta a criatividade, a curiosidade e, consequentemente, contribui para o processo de inovação. Checklist Desenvolvimento de pessoas em tecnologia - baixe agora

Qual o significado de T-shaped?

O termo em inglês, “T-shaped”, pode ser traduzido para o português como “em formato de T”. No contexto profissional, como vimos, refere-se a pessoas profissionais que possuem tanto profundidade quanto amplitude em suas habilidades.

Segundo um artigo da Bridge, as habilidades em forma de T foram mencionadas pela primeira vez na década de 1980, como o “profissional em forma de T” que a McKinsey & Company definiu como a pessoa colaboradora ideal. Entenda melhor a seguir:

  • O traço vertical do “T” representa profundidade, ou seja, um profundo entendimento e especialização em um único campo. É a área onde a pessoa profissional tem conhecimento e habilidades significativas.

  • Já o traço horizontal do “T” representa a amplitude, ou seja, um conjunto mais amplo de habilidades que permitem à pessoa profissional colaborar efetivamente entre disciplinas. Elas são frequentemente chamadas de “habilidades sociais” ou “habilidades transferíveis” e incluem: comunicação, colaboração, resolução de problemas, entre outras.

Quais as principais habilidades de profissionais em T?

Como vimos, profissionais T-Shaped possuem um conjunto de habilidades específicas de uma disciplina primária e amplo conhecimento e experiência multidisciplinar. Além disso, também possuem habilidades interpessoais bem desenvolvidas e, em geral, possuem um alto grau de inteligência emocional.

Tais profissionais tendem a ter bastante criatividade para a resolução de problemas, além de habilidades de pensamento inovador e analítico, muito importantes para a tomada rápida de decisões. Outras características que se destacam são:

  1. Uma boa compreensão do ambiente empresarial moderno, desenvolvida por meio de experiência prática.

  2. Excelente conhecimento do setor, motivado pela paixão de aprender com as outras pessoas enquanto se aperfeiçoam em seu próprio setor.

  3. São as primeiras pessoas na empresa a adotar novas tecnologias, abraçando a inovação e a mudança, em vez de rejeitá-las.

  4. Possuem uma boa gestão do tempo e conseguem gerenciar as tarefas de forma eficaz.

  5. Conseguem trabalhar bem com pessoas de diferentes áreas e formações, atuando como ponte entre as equipes.

  6. Têm habilidade de explicar conceitos complexos de forma clara para públicos variados, incluindo não especialistas, e praticar a escuta ativa.

Em resumo, uma pessoa profissional T-shaped combina a profundidade de um(a) especialista com a versatilidade e as habilidades colaborativas de um(a) generalista, tornando-se um ativo valioso para as organizações que buscam inovação, colaboração e adaptabilidade.

Leia também: Quais são as habilidades do futuro e como se preparar para elas?

Dev em T: o profissional em T nas carreiras de TI

Essa visão de profissional T-Shaped também é importante para a área de tecnologia.

Segundo Diogo Pires, Product Manager da Alura:

“Um profissional especialista, escolhe se aprofundar em um tema, mas ele também é uma pessoa que navega em temas que estão orbitando a área de atuação dele. Na área de desenvolvimento a gente fala de um profissional de Front-end que conhece um pouco de UX e UI, vai conhecer, eventualmente, um pouco de Back-end e de DevOps. Um profissional de dados que vai conhecer muito de estatística e modelos, mas que também vai ter que saber falar e criar um storytelling bacana, olhar para data visualization e Design para apresentar isso.”

É importante ter em mente que profissionais dev em T se apoiam em quatro pilares:

  • Exploração: conhecimento em todas as camadas de uma área de conhecimento.

  • Expansão: compartilhamento do aprendizado.

  • Expertise: profundidade nos conhecimentos mais utilizados.

  • Experiência: prática e aplicação dos conhecimentos adquiridos.

Assista ao bate-papo de Diogo Pires com Paulo Silveira, CEO da Alura, e saiba mais sobre o perfil de profissional em T:
Dev em T: programação, carreira e tipos de perfil

Profissional em I, Profissional em T e Profissional em X

Além de profissional T-Shaped, muito se tem falado sobre profissionais em I e profissionais em X. Por isso, vamos diferenciar esses 3 perfis.

  • Profissionais em I: são o que conhecemos como especialistas. Embora alcançar profundidade de conhecimento seja importante, como vimos, os problemas da atualidade exigem, muitas vezes, uma visão mais horizontal. Dessa forma, problemas de outras áreas podem oferecer soluções inovadoras.

  • Profissionais em T: são especialistas, mas também são generalistas. Ou seja, já desenvolveram uma formação em I e ampliaram o leque de conhecimento, partindo para a horizontalidade.

  • Profissionais em X: são profissionais que já desenvolveram seu T. Alcançaram, desse modo, profundidade e amplitude de conhecimento. Mas, além disso, construíram credibilidade e capacidade de liderar equipes diversas.

É importante ter em mente que as pessoas podem transitar entre os perfis profissionais. Assim, uma pessoa que se desenvolve em I pode ampliar seus conhecimentos e se desenvolver em T.

De igual modo, uma pessoa que já se desenvolveu em T pode continuar se desenvolvendo para chegar a uma formação em X.

E as habilidades em N e M?

Segundo o artigo da Forbes: “T-Shaped, N-Shaped And M-Shaped Skills: Unlock Versatility For Career Success”, um perfil de habilidades em forma de N envolve o desenvolvimento de conhecimento profundo em duas áreas. Essas áreas podem estar alinhadas ao seu setor, ou não, mas a combinação delas cria um perfil forte e importante para sua organização.

Já o perfil de habilidades em formato de M envolve profundo conhecimento em três ou mais áreas. O componente crítico do perfil em formato de M, no entanto, não é somente a profundidade em diferentes áreas, mas sim a amplitude de conhecimento em diferentes setores e disciplinas.

O artigo ainda ressalta que, embora as habilidades em formato de T forneçam uma base sólida para o crescimento profissional, expandir para perfis de habilidades em formato de N e M pode alavancar a trajetória de qualquer profissional.

O profissional T-Shaped e o plano de desenvolvimento das empresas

Promover o desenvolvimento de profissionais em T dentro das empresas também tem seus desafios. Afinal, como atrelar esse desenvolvimento a planos de carreira que, muitas vezes consideram apenas a verticalidade? Como falar de um desenvolvimento horizontal em paralelo à passagem de níveis de profundidade, principalmente quando a maior das empresas ainda possui uma visão de desenvolvimento em I? Primeiro, é claro que o desenvolvimento em T pode seguir diferentes padrões. A horizontalidade não precisa ser igual para todas as pessoas. Contudo, há uma visão de áreas correlacionadas que oferecem uma perspectiva para a construção desse T. Por isso, a Alura lançou recentemente o Tech Guide. O Tech Guide auxilia diferentes profissionais de tecnologia a construírem o seu T, com indicações de conteúdos por nível de profundidade e áreas correlacionadas. Ele também pode ajudar empresas a construírem planos de desenvolvimento. Uma pessoa desenvolvedora em Java, por exemplo, pode se beneficiar do desenvolvimento em fundamentos de html, enquanto se aprofunda em Design Patterns. As lideranças, portanto, podem trazer essa visão e ajudar pessoas lideradas a se tornarem profissionais T-Shaped. Leia também: Como manter uma boa relação entre líderes e liderados na organização Maior escola de tecnologia do país - saiba mais

As vantagens do profissional T-Shaped para as empresas

Talvez você esteja se perguntando quais as vantagens de contar com profissionais T-Shaped na empresa. Por que se empenhar para promover essa horizontalidade do conhecimento lado a lado com a especialização?

Entre as vantagens, podemos citar profissionais com mais criatividade e preparo para um mercado em constante transformação e para processos de inovação em todas as áreas da empresa.

Para quem não atua diretamente com a tecnologia, desenvolver skills digitais pode e deve fazer parte desse T. Afinal, o crescimento a partir dos dados e da automação tornou-se uma realidade.

Adriano Almeida, Co-Founder e COO da Alura, tem uma perspectiva sobre o assunto:

“Para as empresas, é fundamental que, cada vez mais, estimulem que profissionais sejam essas pessoas em T. E para fazer isso não tem segredo: é preciso mostrar qual é a vantagem que elas vão colher de serem profissionais em T. É ter um plano de desenvolvimento estruturado, é ter clareza de que, se elas conseguirem aprender determinadas competências, continuarão crescendo e evoluindo em suas carreiras e vida profissional. É preciso sair da caixa para trazer mais valor ao negócio e agir estrategicamente.”

Como se tornar um(a) profissional em T?

Tornar-se uma pessoa profissional T-shaped é um processo contínuo que exige disciplina e esforço. Envolve aprofundar sua expertise principal enquanto expande seus conhecimentos e habilidades em áreas complementares. Aqui estão algumas estratégias práticas para desenvolver esse perfil:

1. Faça uma autoavaliação e defina seu foco

Faça uma análise honesta de suas competências atuais, identificando seus pontos fortes (sua potencial barra vertical) e as áreas nas quais você pode melhorar ou expandir (sua potencial barra horizontal).

Identifique e defina a área principal que você deseja ter um conhecimento profundo. Esta será a base da sua barra vertical. Se você ainda não tem certeza, explore diferentes setores que possam te interessar.

2. Aprofunde sua expertise

Busque aprofundar seus conhecimentos na sua área principal por meio de cursos avançados, certificações, pós-graduações, MBAs, ou projetos complexos que exijam domínio técnico. Não negligencie sua especialidade, pois ela é a base do seu valor.

Leia também: O que é MBA in company? Entenda como funciona e a qual a importância

3. Expanda sua amplitude

Busque conhecimentos básicos em campos que complementam sua especialidade. O objetivo não é se tornar especialista em tudo, mas entender o suficiente para colaborar e se comunicar eficazmente. Por exemplo, uma pessoa desenvolvedora pode aprender princípios de UX/UI, ou um(a) profissional de marketing pode aprender sobre análise de dados.

Invista ativamente em habilidades comportamentais, como: comunicação, colaboração, empatia, pensamento crítico, inteligência emocional e liderança. O equilíbrio entre hard skills e soft skills é essencial.

Procure oportunidades para trabalhar em projetos que envolvam equipes multidisciplinares ou participar de programas de rotação de funções, se disponíveis.

Saia da sua zona de conforto e conecte-se com profissionais de diferentes áreas e setores, participando de eventos, associações e usando plataformas online para expandir sua rede de networking e suas perspectivas.

4. Adote a mentalidade em T

Comprometa-se com a aprendizagem contínua (lifelong learning), para se manter por dentro da sua área de atuação e explorar novos conhecimentos, por meio de cursos online, leitura, eventos (conferências, workshops, hackathons) e busca por certificações. Incorpore o aprendizado em sua rotina.

Cultive também a curiosidade e a mente aberta para explorar tópicos diversos, mesmo fora do trabalho. Se abra para novas ideias, questione suas próprias convicções e busque diferentes perspectivas.

Outro ponto importante é a disposição para ajudar a sua equipe, colaborando e escutando ativamente, em vez de aderir rigidamente a teorias de uma única disciplina. Se possível, busque mentorias dentro e fora de sua área de especialização para obter orientação e direcionamento no seu desenvolvimento.

Qual o papel das empresas no desenvolvimento de profissionais em T?

As empresas têm um papel essencial no desenvolvimento de profissionais T-shaped, especialmente no setor de tecnologia, indo além da simples especialização vertical.

Para estimular o desenvolvimento de profissionais em T, as empresas podem focar em diversas frentes, vistas a seguir.

Incentivo à especialização profunda

  • Treinamento avançado e certificações: oferecer e custear treinamentos aprofundados e certificações reconhecidas na área de especialização do(a) profissional.

  • Projetos desafiadores: alocar profissionais em projetos complexos que exijam o uso e aprimoramento de suas habilidades principais.

  • Tempo dedicado à pesquisa e experimentação: permitir que as pessoas colaboradoras dediquem parte do seu tempo à pesquisa de novas tecnologias e à experimentação em suas áreas de expertise.

Promoção da amplitude de conhecimento

  • Exposição a diferentes áreas e projetos: rotacionar profissionais entre diferentes equipes ou projetos para experienciarem áreas diversas do ciclo de desenvolvimento de software, por exemplo, ou de diferentes tecnologias.

  • Treinamento em habilidades complementares: oferecer treinamento em áreas relacionadas à especialização principal, como metodologias ágeis, noções de design thinking, conhecimentos básicos de linguagens de programação ou frameworks relevantes, e até mesmo noções do negócio da empresa.

  • Programas de compartilhamento de conhecimento: criar programas internos onde profissionais compartilham seus conhecimentos por meio de palestras, workshops e mentorias, para as pessoas colaboradoras trocarem ideias e aprenderem entre si.

Disseminação da cultura de aprendizado contínuo

  • Fomentar a curiosidade: criar um ambiente onde a busca por conhecimento e a curiosidade sobre novas tecnologias são valorizadas e incentivadas.

  • Disponibilizar recursos de aprendizagem: oferecer acesso a plataformas de e-learning, livros, artigos e outras fontes de conhecimento.

  • Incentivar a colaboração interdisciplinar: estruturar equipes de forma que profissionais de diferentes áreas (devs, QAs, designers, product owners, etc.) trabalhem em conjunto, facilitando a troca de conhecimento e a compreensão das diferentes perspectivas.

  • Promover a cultura de feedback: der feedbacks regulares que ajudem as pessoas profissionais a identificarem oportunidades para aprofundar sua especialização e expandir seu conhecimento em outras áreas.

Liderança inspiradora

  • Líderes que modelam o comportamento T-shaped: líderes que demonstram tanto profundidade em suas áreas quanto amplitude de conhecimento inspiram suas equipes a fazerem o mesmo.

  • Programas de mentoria: conectar profissionais com mentores ou mentoras que possam guiá-los(as) tanto em sua especialização quanto na exploração de novas áreas.

Leia também: Como se tornar uma liderança inspiradora no mercado de tecnologia?

Ao investir no desenvolvimento de profissionais T-shaped, as empresas constroem equipes mais adaptáveis, inovadoras e resilientes.

Mas lembre-se que desenvolver um perfil T-shaped é uma jornada contínua. Requer tempo, dedicação e uma vontade constante de aprender e se adaptar.

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Referências

  1. EPSTEIN, David. Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2020.
Athena Bastos
Athena Bastos

Coordenadora de Comunicação da Alura + FIAP Para Empresas. Bacharela e Mestra em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Pós-graduanda em Digital Data Marketing pela FIAP. Escreve para blogs desde 2008 e atua com marketing digital desde 2018.