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Sensemaking: o que é e como ele influencia as organizações?

Francine Ribeiro

Francine Ribeiro


Alguns conceitos são muito comuns no atual contexto organizacional, como “inovação”, “agilidade”, “transformação digital” entre outros, sendo repetidos com frequência em reuniões, e-mails e planejamentos estratégicos.

Muitas vezes, tendemos a tratá-los como verdades universais, como se tivessem um significado único e estável para todas as pessoas.

No entanto, raramente paramos para questionar: quem define o que a inovação realmente significa em nossa cultura? O senso de urgência do departamento comercial é o mesmo do time de TI?

A realidade é que uma empresa não é somente o que ela produz ou vende. Cada organização é um universo de narrativas construídas social e verbalmente.

A partir dessa ótica, entender a dinâmica de uma empresa é menos sobre analisar organogramas e mais sobre interpretar textos e discursos.

É neste cenário que se mostra a importância do sensemaking, um processo coletivo e contínuo nas empresas. O objetivo deste artigo é, portanto, explorar este conceito, abordando: o que é sensemaking, significado, importância, seu impacto nas organizações e como fomentar essa prática. Acompanhe para saber mais!

Sensemaking: o que é?

Sensemaking é um processo cognitivo e social pelo qual as pessoas (individual ou coletivamente) dão significado às suas experiências, especialmente em situações de incerteza, ambiguidade ou complexidade.

Dessa forma, em vez de buscar uma “verdade absoluta”, ele busca construir uma interpretação plausível que ajude a entender o que está acontecendo e, consequentemente, decidir como agir.

Ele funciona como um ciclo contínuo: as pessoas observam eventos, selecionam informações, interpretam-nas com base em suas experiências e conhecimentos prévios e, então, agem.

Essa ação, por sua vez, gera novos eventos e informações, reiniciando o ciclo. É um processo retrospectivo, ou seja, as pessoas olham para o que já aconteceu para dar sentido ao presente e projetar o futuro.

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Segundo estudos, o termo foi definido pelo filósofo John Dewey, que defendia que o desenvolvimento do conhecimento humano é um processo, acima de tudo, social.

Este conceito foi aplicado no contexto do comportamento empresarial nos anos 60 pelos professores Karl Weick e Dennis Gioia, que buscavam entender a construção dos “entendimentos coletivos” nas empresas.

Compreender o conceito de sensemaking é importante uma vez que ele influencia a maneira como percebemos e reagimos a eventos inesperados ou complexos.

Ele molda nossa percepção do mundo, influenciando desde escolhas cotidianas até decisões estratégicas em negócios.

Ao aprimorar nossa habilidade de dar sentido às experiências, aumentamos nossa resiliência e capacidade adaptativa, tornando-nos mais capazes de enfrentar desafios e aproveitar oportunidades do dia a dia.

O que significa sensemaking?

Sensemaking é um termo que, embora pareça complexo, descreve um processo humano fundamental: a criação de sentido. A etimologia do termo é autoexplicativa, e vem da junção de duas palavras do inglês.

  • Sense (sentido): refere-se ao significado, à compreensão, à percepção.
  • Making (fazer/criação): indica um processo ativo de construção, de elaboração.

Portanto, sensemaking não é somente “entender” ou “interpretar” de forma passiva. É o processo ativo de construir um entendimento.

Qual a diferença entre sensemaking e sensegiving?

O sensemaking, ou “construção de sentido”, é o processo cognitivo e social através do qual as pessoas e grupos tentam compreender situações ambíguas, novas ou confusas. É um esforço para responder à pergunta fundamental: “o que está acontecendo aqui?”.

Por outro lado, o sensegiving, ou “doação de sentido”, é o processo de tentar influenciar o sensemaking das outras pessoas.

Trata-se de uma tentativa deliberada, geralmente por parte das lideranças, de moldar a maneira como as pessoas colaboradoras entendem a realidade organizacional, alinhando-a com uma visão ou objetivo estratégico.

A pergunta central do sensegiving é: “como podemos fazer com que as outras pessoas vejam a situação da forma que nós vemos?”.

Sensemaking: framework ou processo?

Sensemaking é fundamentalmente um processo, e existem diversos frameworks que podem ajudar a entender e aplicar esse processo.

Podemos entendê-lo como uma atividade humana básica que todas as pessoas realizam, muitas vezes, sem perceber, para entender situações novas, ambíguas ou complexas. Ou seja, é a nossa tentativa de responder a perguntas como:

  • “O que está acontecendo aqui?”
  • “Que história explica esses eventos?”
  • “Como devo agir com base no que estou entendendo?”

Ou seja, sensemaking é um processo no qual transformamos a incerteza e a confusão em uma compreensão que faça sentido suficiente para podermos agir. Já os frameworks de sensemaking são as ferramentas desenvolvidas para auxiliar esse processo de forma mais consciente e eficaz.

Eles proporcionam uma estrutura para pensar sobre a complexidade. Dessa forma, se o sensemaking é a atividade de “navegar em um território desconhecido”, os frameworks são os “mapas” ou “bússolas” que podemos usar para isso.

Por que ele é tão importante na atualidade?

A construção ativa de sentido sempre foi uma atividade humana fundamental. No entanto, duas forças principais — o ambiente de negócios VUCA e a era do Big Data — intensificaram a necessidade do sensemaking, transformando-o de uma competência desejável em um pilar estratégico para a sobrevivência e o sucesso de qualquer organização.

O sensemaking no VUCA

Uma vez que o sensemaking é a habilidade essencial para as organizações navegarem no ambiente de negócios moderno, descrito como VUCA, em vez de esperar por clareza absoluta, ele permite agir de forma adaptativa. Dessa forma, abaixo abordamos a sua atuação em cada área do VUCA.

  • Volatilidade (mudanças rápidas): o sensemaking ajuda a criar “mapas” provisórios para guiar a ação imediata, permitindo respostas ágeis.
  • Incerteza (futuro imprevisível): em vez de tentar prever, ele foca em construir um entendimento coletivo sobre o presente para combater a paralisia e possibilitar a ação.
  • Complexidade (muitos fatores interligados): reúne diversas perspectivas da equipe para criar uma visão completa e sistêmica que uma pessoa sozinha não alcançaria.
  • Ambiguidade (falta de clareza): ajuda a criar uma narrativa compartilhada e plausível sobre uma situação, alinhando a equipe e direcionando os próximos passos.

Em resumo, num cenário VUCA onde os manuais tradicionais falham, o sensemaking é a competência que permite às empresas agir em tempo real, aprender e se adaptar continuamente.

O sensemaking no Big Data

Na era da cultura de dados, as organizações enfrentam o paradoxo do excesso de informação: ter mais dados não garante mais clareza. A grande quantidade de dados muitas vezes se torna somente ruído, causando a chamada “paralisia por análise” ou decisões baseadas em vieses. Nesse cenário, o sensemaking ajuda em algumas frentes, conforme abaixo.

  1. Separa o sinal do ruído, identificando as informações que realmente importam.
  2. Conecta os pontos, unindo dados de diferentes fontes (quantitativos e qualitativos).
  3. Cria uma narrativa, transformando os dados em uma história coerente que explica a situação e guia a ação.

Ou seja, enquanto o Big Data fornece os insumos (dados), o sensemaking os transforma em insights valiosos, permitindo que a empresa seja verdadeiramente orientada por dados e não somente uma “colecionadora” de informações.

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Qual o impacto do sensemaking no cenário empresarial?

O sensemaking capacita as organizações a lidar com as incertezas, transformando dados e eventos complexos em narrativas coerentes. Essas narrativas que orientam a ação e impulsionam o sucesso no ambiente de negócios, especialmente no cenário atual de mudanças rápidas e excesso de informações.

Confira a seguir, seus principais impactos no contexto empresarial.

1. Tomada de decisão em cenários complexos

Em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA), o sensemaking permite que líderes e equipes transformem a complexidade em algo compreensível. Isso é essencial para tomar decisões estratégicas mais assertivas, seja no lançamento de um novo produto, na criação de testes, na resolução de um problema inédito ou na adaptação às mudanças de mercado.

2. Resiliência organizacional

Empresas que praticam o sensemaking de forma eficaz são mais resilientes. Elas conseguem reconhecer e integrar múltiplas perspectivas sobre uma mesma situação, o que as prepara melhor para lidar com crises, incertezas e transformações.

3. Compreensão e comunicação interna

O sensemaking facilita a comunicação interna ao ajudar a simplificar informações complexas e transformá-las em algo de fácil entendimento para todas as pessoas colaboradoras. Isso alinha as equipes, promove a colaboração e evita ruídos sobre os objetivos e estratégias.

4. Adaptação a mudanças e inovação

Ao constantemente explorar o ambiente, contextualizar informações e aprender com elas, as empresas se tornam mais aptas a identificar tendências, antecipar desafios e inovar. Isso porque o sensemaking estimula a busca por novas maneiras de enxergar o negócio e o mercado.

5. Gestão da informação e dados

Na era digital, as empresas são bombardeadas com dados. O sensemaking ajuda a filtrar essa avalanche de informações, e identificar o que é realmente relevante e transformando esses dados brutos em insights significativos para a tomada de decisões.

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6. Liderança eficaz

Líderes que dominam o sensemaking conseguem dar um sentido claro às ações e aos desafios para suas equipes. Eles traduzem a visão da empresa em algo tangível e inspirador, e motivam os colaboradores e colaboradoras a entenderem seu papel e a agirem em conjunto para alcançar os objetivos organizacionais.

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Como aplicar o sensemaking nas empresas?

Para ampliar seus resultados e agir com mais eficácia, as empresas precisam fomentar o sensemaking, o que pode ser alcançado por meio de três pilares fundamentais, que listamos a seguir.

Cultura de diálogo e segurança psicológica: criar um ambiente onde as pessoas colaboradoras se sintam seguras para questionar, admitir erros e debater ideias sem medo de punição.

Liderança facilitadora: líderes devem agir como “arquitetos(as) do sentido” fazendo perguntas-chave, como “o que pode estar por trás desses dados?”, “qual é a outra forma de interpretar esta situação?” e “o que estamos deixando de ver?”, transformando desafios em oportunidades de aprendizado e traduzindo a complexidade em narrativas claras, em vez de somente dar respostas.

Ferramentas e rituais práticos: adotar práticas deliberadas como revisões pós-projetos (AAR), sessões de análise de dados, gestão de riscos e o uso do framework Cynefin que ajuda as equipes a diagnosticar o contexto de uma situação (Óbvio, Complicado, Complexo ou Caótico) e a entender qual tipo de resposta é apropriada, para incorporar o sensemaking na rotina da empresa.

A adoção desses pilares leva a resultados concretos, como a redução de erros estratégicos, o aumento da agilidade e adaptação ao mercado, inovações mais relevantes e maior engajamento e retenção de talentos.

O sensemaking não é um processo abstrato, mas uma competência organizacional importante para o crescimento na era da transformação digital.

As empresas que prosperam são aquelas que conseguem construir um sentido claro e produtivo diante da ambiguidade causada por novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, as mudanças de mercado e as novas formas de trabalho.

Contudo, para que o sensemaking não resulte em medo, resistência ou desinformação, é fundamental capacitar as equipes com o conhecimento necessário para interpretar o novo cenário.

Neste ponto, você pode contar com a parceria estratégica da Alura + FIAP Para Empresas, com trilhas de aprendizado atualizadas em tecnologia, dados, inovação e negócios, para capacitar as pessoas colaboradoras com as habilidades essenciais para o futuro.

Investir na capacitação contínua é investir diretamente na capacidade de sensemaking da sua organização. Trata-se de uma forma mais eficaz de transformar a incerteza de “o que está acontecendo?” na confiança de “nós sabemos como agir”.

Fale com nossa equipe de especialistas e entenda como podemos ajudar a sua empresa!

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Francine Ribeiro
Francine Ribeiro

Analista de Conteúdo da Alura +FIAP Para Empresas. Jornalista de formação, com MBA em Comunicação Corporativa pela Universidade Tuiutí do Paraná (UTP) e MBA em Business Strategy e Transformation pela FIAP. Atua com produção de conteúdo para empresas desde 2009 e com marketing digital desde 2016.