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Vibe coding: o que é, como surgiu, riscos e mais!

Francine Ribeiro

Francine Ribeiro


Nos últimos anos, o desenvolvimento de software tem passado por transformações impulsionadas pela Inteligência Artificial, e um dos conceitos que mais tem ganhado relevância nesse cenário é o vibe coding.

Introduzido por Andrej Karpathy em 2025, o termo descreve uma nova abordagem à programação, em que as pessoas desenvolvedoras deixam de se concentrar na escrita do código e passam a expressar suas intenções em linguagem natural, enquanto agentes de IA se encarregam da implementação técnica.

Essa mudança de paradigma está sendo rapidamente adotada em escala global: segundo o Vibe Coding Dashboard 2025 da Innobu, a IA já é responsável por gerar 41% de todo novo código, com 256 bilhões de linhas escritas somente em 2024. Esses dados evidenciam o impacto e a velocidade dessa evolução, além de redefinir o papel da pessoa programadora na era da IA.

Continue a leitura para entender mais sobre o conceito de vibe coding, como essa abordagem pode impactar tanto profissionais como empresas, suas principais ferramentas e como introduzi-la nas organizações.

O que é vibe coding?

Basicamente, vibe coding é uma nova forma de programar que coloca a ideia de quem está desenvolvendo no centro do processo.

Assim, em vez de uma pessoa escrever cada linha de código manualmente, ela descreve o que deseja criar (ou seja, a “vibe” do projeto) e a Inteligência Artificial cuida da parte técnica, sugerindo códigos prontos, montando estruturas básicas e automatizando tarefas repetitivas.

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Essa abordagem permite que a pessoa desenvolvedora foque mais na criatividade e no design da solução, enquanto a IA trata dos detalhes operacionais.

Na prática, o vibe coding também torna o desenvolvimento de software mais rápido, intuitivo e acessível, representando uma grande mudança na forma como a programação é feita e como é criada.

O que significa vibe coding?

A expressão vibe coding, que pode ser traduzida como “codificação por intenção” ou “programar pela vibe”, representa muito mais do que uma técnica. Trata-se de uma mudança na forma de pensar o desenvolvimento de software.

Nesse modelo, como vimos, o fluxo é iterativo: a pessoa explica, a IA gera o código, a pessoa desenvolvedora testa e ajusta, e esse ciclo se repete até que o resultado desejado esteja satisfatório.

Isso favorece a experimentação rápida e permite a refinação da solução com base em testes contínuos, alinhando-se aos princípios das metodologias ágeis.

Vale ressaltar também que, mesmo ao codar com IA, o papel do(a) profissional de desenvolvimento continua essencial, por ser quem garante que o código faça sentido, esteja alinhado aos objetivos do projeto e seja seguro.

Por isso, podemos concluir que o sucesso do vibe coding depende da capacidade humana de orientar a IA com clareza, revisar com senso crítico e tomar decisões estratégicas com base no contexto do negócio.

4 ferramentas de vibe coding

Para experimentar o vibe coding, na prática, basta utilizar uma das diversas ferramentas capazes de gerar AI coding (código com IA) a partir de comandos em linguagem natural.

Atualmente, existem várias soluções no mercado que viabilizam essa abordagem de forma eficiente. A seguir, apresentamos quatro das ferramentas mais populares.

1. GitHub Copilot

Desenvolvido em parceria com a OpenAI, o GitHub Copilot é uma das ferramentas mais populares de codificação assistida por IA. Ela se integra diretamente ao VS Code, Neovim, JetBrains e outros editores, oferecendo sugestões em tempo real com base em comentários e no próprio contexto do código.

Melhor uso: ideal para acelerar tarefas rotineiras de programação, gerar trechos de código repetitivos, prototipar funcionalidades rapidamente e explorar novas APIs.

2. Cursor

O Cursor é um editor de código com IA baseado no VS Code, mas otimizado desde o início para colaboração com IA. Ele permite conversar com o código e realizar buscas contextuais, correções, testes e refatorações usando comandos em linguagem natural.

Melhor uso: fluxos de trabalho iterativos, onde a pessoa desenvolvedora precisa testar ideias para prototipação, exploração de novos projetos ou refatorações em grande escala.

3. Ghostwriter

Integrado à plataforma online Replit, o Ghostwriter permite a codificação assistida em tempo real no navegador, com suporte para dezenas de linguagens. Seu sistema oferece sugestões completas de código, depuração assistida por IA e até mesmo explicações em linguagem simples do que cada trecho faz.

Melhor uso: perfeito para pessoas desenvolvedoras iniciantes ou para fins educativos. Também é útil em contextos colaborativos, onde múltiplos membros de uma equipe compartilham um mesmo projeto.

4. Amazon Q Developer

Voltado principalmente para pessoas desenvolvedoras que usam o ecossistema AWS, o Amazon Q oferece sugestões de código, snippets, integração com serviços da nuvem e suporte para diversas linguagens de programação, como Python, Java e JavaScript.

Melhor uso: indicado para equipes que desenvolvem em ambientes de produção usando infraestrutura da AWS. Também é uma escolha sólida para empresas preocupadas com conformidade e segurança em aplicações corporativas.

Leia também: 10 ferramentas de IA para aumentar a produtividade da sua empresa

Desafio ético por trás do vibe coding

Embora o vibe coding esteja frequentemente associado ao uso de IA na programação, ele possui uma definição específica (e controversa). Em sua forma original, a abordagem significa aceitar o código gerado pela IA sem necessariamente compreendê-lo por completo.

Essa característica é o que mais diferencia essa abordagem de uma prática mais tradicional de desenvolvimento assistido por IA, onde a pessoa programadora continua sendo responsável por revisar, testar e entender tudo o que está sendo implementado. Essa diferença foi destacada pelo pesquisador Simon Willison, que afirmou:

Se um LLM escreveu cada linha do seu código, mas você revisou, testou e entendeu tudo, isso não é vibe coding na minha opinião — isso é usar um LLM como um assistente de digitação.

Essa distinção é crucial, especialmente porque o termo vibe coding passou a ser usado amplamente no mercado, muitas vezes por empresas que promovem ferramentas de IA como soluções profissionais sob esse rótulo.

Ao fazer isso, existe o risco de mudar o significado original do termo e, pior, de promover práticas potencialmente perigosas.

Por trás do nome atrativo, algumas organizações podem acabar incentivando a ideia de que é aceitável “esquecer que o código existe”. Ou seja, adotar o código com IA sem questionamento, mesmo em sistemas críticos de produção.

Por este motivo, mais do que uma discussão técnica, o debate em torno do vibe coding revela um choque ético e cultural.

De um lado, estão os valores clássicos da engenharia de software: rigorosidade, responsabilidade técnica e compreensão profunda do sistema. Do outro, surge uma nova cultura, baseada na velocidade, nos prompts e na experimentação rápida, impulsionada pela acessibilidade das ferramentas de IA.

Essa discussão já provocou reações fortes dentro da comunidade das pessoas desenvolvedoras. Inclusive, o termo vibe coding já foi duramente criticado, chegando a ser classificado por muitos(as) profissionais como uma prática “descuidada”, “preguiçosa” ou até mesmo como um “insulto à engenharia de software”.

Diante disso, o verdadeiro desafio não está somente em adotar novas ferramentas, mas em equilibrar dois mundos: de um lado, a inovação e agilidade oferecidas pela Inteligência Artificial; de outro, os fundamentos sólidos da programação.

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Quais os riscos de codar com IA?

Complementando as questões éticas que o vibe coding possui, existem outros riscos que, se ignorados, podem comprometer seriamente a qualidade e a segurança de diferentes projetos. Abaixo, estão os principais desafios associados à prática de codificação com IA — especialmente em sua forma mais automatizada, como no vibe coding puro.

Compreensão superficial do código

Ao aceitar um IA coding sem revisar cuidadosamente sua lógica, as pessoas desenvolvedoras correm o risco de implementar soluções que funcionam momentaneamente, mas que não são totalmente compreendidas. Isso afeta diretamente a capacidade de manter, escalar ou adaptar o sistema criado no futuro.

Introdução de falhas e vulnerabilidades

Modelos de IA, como LLMs, aprendem com grandes volumes de código disponível na internet, incluindo padrões inseguros, desatualizados ou errôneos. Isso significa que o código gerado pode conter:

  • erros lógicos difíceis de identificar em testes superficiais;
  • vulnerabilidades de segurança, como falhas em autenticação e problemas de validação de entrada;
  • práticas obsoletas, como o uso de bibliotecas descontinuadas ou abordagens ultrapassadas de arquitetura.

Se o código for colocado em produção sem validação adequada, esses riscos podem resultar em falhas sistêmicas, vazamentos de dados ou exploração de vulnerabilidades por ciberataques.

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Dependência da IA

O uso frequente de ferramentas de codificação assistida sem reflexão crítica pode levar à perda de autonomia técnica. Isso significa que as pessoas desenvolvedoras podem deixar de praticar habilidades fundamentais como:

  • estruturação lógica de algoritmos;
  • escrita e interpretação de código limpo;
  • análise de desempenho;
  • compreensão de documentação e bibliotecas.

Problemas de propriedade intelectual

A IA pode gerar código com base em exemplos extraídos de repositórios públicos, como o GitHub, durante seu treinamento.

Embora os modelos não copiem código diretamente, há o risco de reprodução parcial de trechos protegidos por licenças específicas (como GPL ou MIT). Isso pode gerar implicações legais, especialmente em produtos comerciais que exigem direitos autorais e licenças de software.

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Como usar o vibe coding nas empresas?

Apesar dos desafios envolvidos, a abordagem vibe coding, como vimos ao longo do texto, representa uma verdadeira faca de dois gumes.

Por um lado, há riscos que não podem ser ignorados, como a falta de compreensão total do código com IA gerado.

Por outro lado, também existem benefícios concretos, como ganho de produtividade, aceleração na prototipação e mais fluidez nos processos criativos de desenvolvimento.

O que ninguém pode contestar é que essa prática já é uma realidade no mercado. Sendo assim, a questão que devemos evidenciar é: como as empresas podem usar o vibe coding de forma ética em seus projetos?

Para isso, separamos algumas etapas abaixo que, para empresas que querem adotar essa abordagem, serão essenciais para enfrentar os desafios e usar essa tecnologia a favor da organização.

1ª etapa: fale com sua equipe e escolha a ferramenta

Antes de tudo, entenda como o vibe coding pode ser introduzido na sua empresa.

Para isso, converse com seu time de desenvolvimento juntamente com a sua liderança tech para entender como essa abordagem pode ser benéfica para o setor.

Nesta conversa, alinhe também os objetivos e, a partir deles, busque a ferramenta de vibe coding que mais se alinhe à equipe, como as opções que apresentamos anteriormente. A escolha deve considerar:

2ª etapa: estabeleça diretrizes claras de uso

Para evitar usos irresponsáveis, as empresas devem criar políticas internas de governança de IA.

Isso inclui padrões mínimos de validação de código e definições sobre onde e quando a IA pode ser usada, como nas fases de produção e prototipagem.

Essas diretrizes equilibram criatividade e controle para promover responsabilidade e segurança, tanto para os projetos da empresa quanto para a equipe, pois mostra que o trabalho de seus colaboradores e colaboradoras é essencial e insubstituível no processo.

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3ª etapa: capacite a equipe para trabalhar com IA

Implementar vibe coding exige uma mudança de processos, mas também de cultura. Para que as pessoas desenvolvedoras da sua empresa usem essa abordagem com eficiência, é preciso que toda a equipe seja treinada em letramento em IA.

Assim, todas as pessoas podem conseguir formular prompts eficientes, avaliar criticamente as respostas da IA e melhorar os resultados gerados.

Leia também: Como a IA pode facilitar o trabalho das pessoas colaboradoras dentro de uma empresa

4ª etapa: acompanhe o uso e os resultados do vibe coding

Após implementar ferramentas e integrar o vibe coding ao fluxo de trabalho do seu time, é essencial monitorar continuamente seu uso e os impactos gerados.

Essa etapa garante que a prática esteja realmente agregando valor ao desenvolvimento, além de ajudar a identificar pontos de melhoria e evitar desvios que comprometam a qualidade do código.

Para concluir, podemos resumir que o vibe coding representa uma oportunidade concreta de transformar a maneira como o software é construído dentro das empresas.

Com uso responsável, processos bem definidos e capacitação das equipes, a IA pode se tornar uma aliada estratégica poderosa.

Destacamos que o futuro do desenvolvimento corporativo não está em substituir pessoas desenvolvedoras por máquinas, mas sim em potencializar suas capacidades humanas com o apoio inteligente da tecnologia.

Para colocar isso em prática, sua empresa pode contar com a parceria educacional da Alura + FIAP Para Empresas. Com formações e treinamentos específicos para IA e outras tecnologias, sua equipe terá o conhecimento necessário para integrar o vibe coding com ética e eficiência.

Leia também: Human-centered AI — como criar soluções de inteligência artificial com foco nas pessoas

Francine Ribeiro
Francine Ribeiro

Analista de Conteúdo da Alura +FIAP Para Empresas. Jornalista de formação, com MBA em Comunicação Corporativa pela Universidade Tuiutí do Paraná (UTP) e MBA em Business Strategy e Transformation pela FIAP. Atua com produção de conteúdo para empresas desde 2009 e com marketing digital desde 2016.