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CVO: o que é, papel, importância e impacto estratégico

Francine Ribeiro

Francine Ribeiro


Em muitas empresas, a pergunta deixou de ser “o que vamos fazer no próximo trimestre?” para se tornar “para onde estamos indo, e por quê?” A busca por sentido e direção estratégica tem se intensificado, especialmente diante de um cenário em que mudanças tecnológicas, sociais e econômicas acontecem em ritmo acelerado.

Não por acaso, uma pesquisa da PwC revelou que 50% das pessoas CEOs entrevistadas já estão convidando pessoas externas para fazer perguntas difíceis sobre suas estratégias. Essa atitude sinaliza um novo tempo: líderes que querem desafiar certezas para encontrar caminhos mais relevantes e promissores.

É nesse ambiente que o cargo de CVO (Chief Visionary Officer) começa a se destacar. Além de pensar em metas e lucros, quem atua nessa profissão pensa na visão de futuro da empresa, conectando propósito, inovação e impacto a longo prazo.

Neste artigo, portanto, vamos conferir o que é ser uma liderança visionária, exemplos de destaque, quais as responsabilidades do cargo, além de entender como se tornar um(a) CVO. Acompanhe!

O que é CVO?

O(a) CVO (Chief Visionary Officer), termo que pode ser traduzido como diretor visionário, ou diretora, é a pessoa executiva responsável pela visão de longo prazo e pela estratégia geral de uma empresa. Essa profissão pode ser uma posição de consultoria de alto nível ou, em alguns casos, um cargo acima do(a) CEO.

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No cenário corporativo, espera-se que o(a) CVO conheça profundamente todos os assuntos do negócio e tenha ideias visionárias para levar a empresa para um sucesso sustentável.

Isso significa definir as estratégias e os planos de ação, criar os processos de planejamento, pensar em novas parcerias e garantir mais transparência e responsabilidade na execução da estratégia.

Qual a diferença entre CVO e CEO?

Embora compartilhem a mesma mesa de decisões, quem atua como CVO (Chief Visionary Officer) e CEO (Chief Executive Officer) tem papéis bastante distintos dentro de uma organização.

A pessoa CEO é a executiva responsável por liderar a empresa no presente. Ela toma decisões estratégicas, gerencia operações, coordena áreas-chave e garante que os objetivos definidos sejam alcançados de forma eficiente e sustentável. Seu foco principal está em resultados, desempenho e gestão de riscos. Ou seja, fazer a empresa funcionar bem agora.

Já a CVO olha para além do horizonte. Seu papel é cultivar a visão de futuro da organização: imaginar possibilidades, antecipar tendências, provocar reflexões e garantir que a empresa esteja se movendo na direção certa, não somente em termos financeiros, mas também culturais, sociais e tecnológicos.

Responsabilidades da liderança visionária

A profissão de CVO vai muito além de criar frases de impacto ou idealizar o futuro. É sobre uma liderança estratégica com responsabilidades concretas que moldam o posicionamento e a relevância da organização ao longo do tempo. A seguir, confira algumas das suas principais funções.

1. Sustentar uma visão de longo prazo

O(a) CVO é responsável por desenvolver uma visão clara, inspiradora e coerente com os valores da empresa. Para isso, precisa garantir que essa visão esteja viva no dia a dia da organização — utilizando o sensegiving para ajudar no guia de decisões e inovação do negócio.

2. Antecipar tendências e mudanças de mercado

Mais do que acompanhar o que está acontecendo, a pessoa que ocupa o cargo de direção visionária deve identificar sinais de mudanças de comportamento na sua área antes que se tornem evidentes. Isso permite à empresa agir proativamente, em vez de apenas reagir às mudanças.

3. Estimular a inovação e o pensamento disruptivo

O(a) CVO precisa criar um ambiente onde a criatividade é valorizada, novas ideias são bem-vindas e o erro é visto como parte do processo de aprendizado. Ele desafia o sendo comum e encoraja os times a explorarem possibilidades além das soluções tradicionais, para que haja inovação de forma orgânica.

4. Conectar propósito e estratégia

Um dos papéis centrais do(a) CVO é garantir que as decisões estratégicas estejam alinhadas ao propósito da empresa. Ele(a) ajuda a manter o foco no “porque”, para que o crescimento do negócio siga a identidade e os valores da organização.

5. Inspirar e engajar pessoas em torno de uma causa comum

Liderar com visão significa mobilizar pessoas colaboradoras, parceiras e clientes em torno de uma narrativa significativa. Nesse sentido, o(a) CVO atua como um ponto de união, despertando senso de pertencimento e direção compartilhada.

7. Integrar visões externas e promover escuta ativa

O(a) CVO não trabalha somente por conta própria, mas busca ativamente insights de fora da organização, seja de especialistas, pessoas consumidoras, startups ou movimentos sociais. Essa escuta ativa em relação ao que está acontecendo no mundo amplia o repertório da empresa e fortalece sua capacidade de se reinventar.

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Exemplos de liderança visionária

Para vermos na prática como a função do(a) CVO faz a diferença nas empresas, abaixo, confira dois exemplos de profissionais que se destacaram nas suas funções como liderança visionária.

John Colgrove, CVO da Pure Storage

John Colgrove, fundador e Chief Visionary Officer da Pure Storage, é um dos mais conhecidos exemplos de liderança visionária com base técnica. Com mais de 450 patentes e uma carreira consolidada no setor de armazenamento de dados, ele não apenas antecipou uma mudança tecnológica fundamental, mas construiu uma empresa para liderar essa transformação.

Sua visão era clara e ousada: os discos rígidos (HDDs) estavam se tornando obsoletos, enquanto a memória flash evoluía rapidamente em desempenho, confiabilidade, consumo de energia e custo. A partir dessa constatação, ele estabeleceu um princípio norteador para a Pure Storage: todo armazenamento deveria migrar para o flash. Essa ideia se tornou a base estratégica da empresa desde sua fundação em 2009.

Além da tecnologia, Colgrove tinha uma convicção firme de que os sistemas de armazenamento deveriam ser simples. Incomodado com a complexidade dos produtos legados, ele priorizou soluções intuitivas e fáceis de operar, transformando essa simplicidade em um diferencial competitivo.

À medida que o mercado evoluiu com o crescimento da Inteligência Artificial e o aumento exponencial de dados, a visão de Colgrove também se expandiu. A Pure Storage passou a investir na Enterprise Data Cloud, uma proposta para unificar o armazenamento e o gerenciamento de dados em escala global, tornando-os acessíveis e otimizados para cargas de trabalho modernas, especialmente em IA.

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Sung-Joo Kim, CVO da MCM

Fundadora do Sungjoo Group, Kim foi pioneira ao trazer marcas como Gucci e Yves Saint Laurent para o mercado asiático.

Em 2005, assumiu um risco estratégico ao adquirir a MCM, uma tradicional marca alemã de artigos de couro de luxo então em declínio, com o objetivo de reposicioná-la para uma nova era.

Sua visão, que ela batizou de “new school luxury”, rompe com os paradigmas tradicionais do setor ao propor uma sofisticação mais prática, inclusiva e culturalmente híbrida, voltado às pessoas consumidoras do século XXI.

A proposta era criar produtos que combinassem tecnologia, moda e funcionalidade — como as mochilas unissex e bolsas para laptops —, atraindo uma nova geração. Desse modo, Kim fundiu a herança alemã da MCM com influências asiáticas contemporâneas, trazendo frescor à marca e reposicionando-a no competitivo mercado global de luxo.

Com o sucesso dessa transformação, Kim conduziu uma expansão global progressiva. Sob sua liderança, a MCM passou a operar em cerca de 40 países, com presença marcante na Ásia, Europa e Estados Unidos.

Como uma liderança pode se tornar uma CVO?

Se você é da alta liderança de uma empresa e quer se tornar um CVO ou deseja designar alguém para esse cargo, saiba que esse pode ser um processo de transformação pessoal e estratégica, pois envolve ampliar a forma de pensar, desenvolver novas habilidades e assumir um papel ativo na construção do futuro da organização.

Para te ajudar nessa missão, veja a seguir alguns passos essenciais para pessoas que querem trilhar esse caminho.

1° passo: reposicionar o olhar do presente para o futuro

A transição começa com uma mudança de perspectiva. Líderes que aspiram ao papel de CVO precisam aprender a sair da rotina operacional e dedicar tempo à visão de longo prazo. Isso exige estudar tendências, compreender transformações globais e pensar em cenários possíveis, mesmo (e especialmente) aqueles que parecem distantes ou incertos.

Para colocar isso em prática, reserve momentos estratégicos na agenda para pensar no futuro da empresa. Participe de fóruns sobre inovação, tecnologia, sustentabilidade e comportamento humano. A mentalidade visionária é alimentada por repertório.

2° passo: desenvolver pensamento sistêmico e estratégico

O(a) CVO enxerga além de departamentos ou metas isoladas, mas vê o sistema como um todo. Para isso, é essencial desenvolver a capacidade de entender como as decisões locais afetam a cultura organizacional, os(as) clientes, o mercado e o planeta.

Nesse sentido, nossa dica é estudar e se aprofundar em ferramentas como foresight estratégico, design de futuros, mapeamento de tendências e cenários possíveis. Esses métodos ajudam a ampliar a visão e embasar decisões em diferentes horizontes.

3° passo: cultivar escuta ativa e empatia radical

A liderança visionária não é autorreferente. Para imaginar futuros mais justos, relevantes e sustentáveis, é preciso escutar ativamente as pessoas colaboradoras, clientes, comunidades, especialistas externos(as) e gerações mais jovens, por exemplo. Muitas vezes, a visão mais transformadora vem de quem está fora da sala de decisões.

Então, pratique a escuta ativa em conversas estratégicas, crie espaços de diálogo com públicos diversos e seja intencional ao buscar pontos de vista que desafiem sua zona de conforto.

4° passo: alinhar visão, propósito e cultura organizacional

Um verdadeiro ou verdadeira CVO não propõe uma visão desconectada da identidade da empresa. Pelo contrário, traduz o propósito em direção estratégica e cuida para a cultura interna sustentar essa caminhada. O futuro desejado precisa fazer sentido para as pessoas envolvidas nele.

Por isso, antes de apresentar uma proposta, reflita sobre como a visão da organização se conecta à sua iniciativa. Lembre-se que valores não são slogans, mas sim guias para decisões consistentes.

5° passo: seja um facilitador de inovação

Ser uma pessoa visionária não significa ter todas as respostas do futuro, mas saber fazer as perguntas certas e criar o ambiente ideal para que novas ideias floresçam. Desse modo, um(a) CVO deve atuar como ponte entre criatividade e estratégia, entre liberdade e direção.

Na prática, isso significa apoiar novas iniciativas dentro da organização, mesmo que comecem pequenas; estimular o intraempreendedorismo; criar laboratórios de ideias e incentivar a experimentação responsável em todas as pessoas da equipe.

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6° passo: comunicar com clareza, inspiração e verdade

Além de planejar iniciativas, uma das competências mais importantes do(a) CVO é a capacidade de comunicar a visão de forma clara, inspiradora e coerente com a prática. Isso envolve não só grandes discursos, mas o alinhamento diário entre fala e atitude.

Para isso, construa uma narrativa forte sobre o futuro da organização e compartilhe-a com consistência. Use histórias reais e dados confiáveis para engajar emocional e racionalmente.

Se tiver dificuldade em comunicação corporativa, indicamos a procura por cursos, formações e treinamentos sobre essa soft skill. Assim, você ganha mais autoconhecimento, confiança e segurança para suas ações.

7° passo: ter coragem para desafiar o que está imposto

Como última orientação, o caminho do cargo de CVO exige coragem. Visões transformadoras quase sempre causam desconforto, porque rompem os padrões estabelecidos que as pessoas já estão acostumadas.

A liderança visionária precisa estar preparada para enfrentar resistências e liderar mudanças, mesmo quando elas são impopulares no início. Então, esteja disposto(a) a fazer perguntas difíceis, reavaliar crenças antigas e assumir riscos calculados. O futuro não será moldado por quem busca agradar, mas por quem tem firmeza e clareza para transformar.

Foi possível perceber que se tornar uma pessoa CVO é um processo contínuo, não é mesmo? Trata-se de um compromisso com o futuro, com o propósito e com as pessoas. Em um mundo que muda tão rápido, esse tipo de gesto não somente acompanha o ritmo do novo, mas o define.

Mas para colocar tudo isso em prática, é fundamental que líderes e pessoas colaboradoras estejam em constante desenvolvimento, tanto em habilidades técnicas quanto comportamentais, para acompanhar as novas iniciativas.

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Leia também: O que é liderança estratégica e como aplicar na sua empresa?

Francine Ribeiro
Francine Ribeiro

Analista de Conteúdo da Alura +FIAP Para Empresas. Jornalista de formação, com MBA em Comunicação Corporativa pela Universidade Tuiutí do Paraná (UTP) e MBA em Business Strategy e Transformation pela FIAP. Atua com produção de conteúdo para empresas desde 2009 e com marketing digital desde 2016.